segunda-feira, 21 de abril de 2014


 

                                         Retalhos de Quaresma

                                                                     Maria

 

Andei vasculhando meu arquivo de crônicas. Achei algumas sobre a Quaresma...Reparto com vocês a poesia que existe no mundo quaresmeiro dos pequenos. Hoje já é dia 21 de abril de 2014 – mas a poeisa permanece....

                                                               

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         Aprendi, com as crianças, que elas convivem com Jesus, uma das três pessoas da Santíssima Trindade, de igual para igual. O Deus Criador – Deus Pai -e o Deus Espírito Santo estão muito longe do alcance dos pequenos. Acho que, só mais tarde, o PAI e o ESPÍRITO SANTO sairão dos catecismos para fazerem parte do coração de cada uma das crianças que passaram por mim.

         Uma vez, fiquei insistindo, maçando demais sobre o assunto, frisando muito a figura do Espírito Santo, em forma de pomba, e  uma de minhas filhas me cortou:

         _ Ah, não, mamãe, não entendo nada desse DEUS-PASSARIHO!

 

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         Agora, o Deus/Jesus, sempre notei, era encarado como um menino levado, como um moço legal, como um homem comum. Por isso, não tinham –e não têm -a menor cerimônia com o Jesus.

        

         A   Helen, filha de minha amiga Maria Luísa, tinha uns cinco anos.

         Viva, esperta, liderava uma brincadeira naquela tarde azul.

De repente, uma coleguinha  falou um nome-feio.

Foi um bafafá: era Quaresma.

_Não pode falar nome –feio! Deus escuta tudo... Deus vê tudo...

E a Hélen, doida para continuas a brincadeira:

_ Vamos brincar, gente! Tem nada, não!  Deus morreu ontem! Eu até fui no enterro dele com  com a mamãe!

E a turma continuou a cantar na “ maior bondade”, como falamos por aqui....

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Minhas meninas estavam brincando  no meu quarto, onde há um crucifixo grande e antigo.  

Corre daqui, corre dali, uma delas falou:

_Assim não vale! Assim não vale!  Você olhou, você olhou!

_Não olhei, juro, juro que não olhei!

_ O Deus tá de prova ! Ele vê tudo!

Cheguei ao quarto bem na hora em que ela estava virando o crucifixo para a parede.

_Que é isto, menina? Você vai quebrar o meu crucifixo! Para com isto, para!

E ela na maior responsabilidade:

_Acho que Ele tá enredando tudo pra ela... Agora, virado pra parede, quero ver Ele contar o esconderijo...

 

 

Sexta-feira da Paixão. Almoço da turma toda.

A avó/cozinheira se via às voltas com a turma dos pequeninos: uns tinham mais de 7 anos e não podiam comer carne.

_ Só um pedacinho, vovó!

A Isabela, muito falante, muito pra frente, liderou uma comissão de primos...

_Vamos lá falar com Ele! Vamos perguntar se pode...

Acompanhei de longe, para ver a idéia dela.

Voltaram triunfantes!

_Pode, vó, todo mundo pode comer carrne !

_Como assim?

_Uai, nós fomos lá no Jesusinho da sala (presépio) e eu perguntei pra Ele...

__ Ah! É! E o que foi que Ele falou ?

_ Ele ficou rindo... Então, claro que pode!

    Aí, eu quis saber:

_Por que você não foi ao meu quarto? É mais perto...

_Nem, de jeito nenhum.... Aquele lá é gente grande...

 

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A Alice já nasceu vaidosa: vive de esmalte  colorido, com strass. brilho nos lábios, uma graça.

Apareceu aqui, em plena Semana Santa, com um esmalte vermelho vivo. Eu brinquei:

No meu tempo, na Quaresma, a gente nâo podia usar roupa  muito estampada e... e... nem esmalte vermelho....

_ Por quê?

A Globinha – apelido da Alice, aqui em casa -ficou pensativa e eu me esqueci daquilo.

Passado um tempo, volta a Alice nos seus esplendorosos 10 anos:

         _E assim, vó, dessa cor  pode?  

         Desmaiei de rir... Ela pintara as unhas todas, inclusive as dos pés, de esmalte preto... E ainda caprichou nos arabescos roxos....

 

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         Da turma dos  miudinhos, o Artur é o que já consegue conversar direitinho. Com 4 anos, aprende tudo na escolinha.

         Dia deste, eu vinha embora para Dores.  E ele é apaixonado pela vovó Brrrrrranca. Então, já viu, ia ser um choro só....

         Minha nora quis desfazer o clima de emoção e falou:

         _ Nossa, Artur. Conta pra vovó como é a poesia que  você aprendeu, conta!

         _ Qual?

         _ A do arco-íris...

         E ele,  com os olhinhos molhados, recitou para a vovó - com voz de choro- um poeminha  do qual eu só consegui guardar:

                           “E o Deus pegou o pincel

                                 E pintou um arco-íris

                                 Lá no céu....”

        

        

                                                       

         _Será por que que a vovó    via, pra todo lado  que olhava,um arco-íris  bem pertinho de seu olhar?

         ‑ Será por que ?                                         

     

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                                                   Dores do Indaiá, 12 de março de 2008-

                                            (Para a minha neta Fernanda que hoje faz 11 anos e que me ensinou a passar meu primeiro e-mail)

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