Andei vasculhando
meu arquivo de crônicas. Achei algumas sobre a Quaresma...Reparto com vocês a
poesia que existe no mundo quaresmeiro dos pequenos. Hoje já é dia 21 de abril
de 2014 – mas a poesia permanece....
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Aprendi, com as crianças, que elas convivem com Jesus, uma das três pessoas da
Santíssima Trindade, de igual para igual. O Deus Criador – Deus Pai -e o Deus
Espírito Santo estão muito longe do alcance dos pequenos. Acho que, só mais
tarde, o PAI e o ESPÍRITO SANTO sairão dos catecismos para fazerem parte do
coração de cada uma das crianças que passaram por mim.
Uma vez, fiquei insistindo, maçando demais sobre o assunto, frisando muito a
figura do Espírito Santo, em forma de pomba, e uma de minhas filhas me
cortou:
_ Ah, não, mamãe, não entendo nada desse DEUS-PASSARIHO!
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Agora, o Deus/Jesus, sempre notei, era encarado como um menino levado, como um
moço legal, como um homem comum. Por isso, não tinham –e não têm -a menor
cerimônia com o Jesus.
A Helen, filha de minha amiga Maria Luísa, tinha uns cinco anos.
Viva, esperta, liderava uma brincadeira naquela tarde azul.
De repente, uma coleguinha falou um
nome-feio.
Foi um bafafá: era Quaresma.
_Não pode falar nome –feio! Deus escuta
tudo... Deus vê tudo...
E a Hélen, doida para continuas a
brincadeira:
_ Vamos brincar, gente! Tem nada, não!
Deus morreu ontem! Eu até fui no enterro dele com com a mamãe!
E a turma continuou a cantar na “ maior
bondade”, como falamos por aqui....
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Minhas meninas estavam brincando no
meu quarto, onde há um crucifixo grande e antigo.
Corre daqui, corre dali, uma delas falou:
_Assim não vale! Assim não vale! Você
olhou, você olhou!
_Não olhei, juro, juro que não olhei!
_ O Deus tá de prova ! Ele vê tudo!
Cheguei ao quarto bem na hora em que ela
estava virando o crucifixo para a parede.
_Que é isto, menina? Você vai quebrar o meu
crucifixo! Para com isto, para!
E ela na maior responsabilidade:
_Acho que Ele tá enredando tudo pra ela...
Agora, virado pra parede, quero ver Ele contar o esconderijo...
Sexta-feira da Paixão. Almoço da turma toda.
A avó/cozinheira se via às voltas com a
turma dos pequeninos: uns tinham mais de 7 anos e não podiam comer carne.
_ Só um pedacinho, vovó!
A Isabela, muito falante, muito pra frente,
liderou uma comissão de primos...
_Vamos lá falar com Ele! Vamos perguntar se
pode...
Acompanhei de longe, para ver a idéia dela.
Voltaram triunfantes!
_Pode, vó, todo mundo pode comer carrne !
_Como assim?
_Uai, nós fomos lá no Jesusinho da sala
(presépio) e eu perguntei pra Ele...
__ Ah! É! E o que foi que Ele falou ?
_ Ele ficou rindo... Então, claro que pode!
Aí, eu quis saber:
_Por que você não foi ao meu quarto? É mais
perto...
_Nem, de jeito nenhum.... Aquele lá é gente
grande...
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A Alice já nasceu vaidosa: vive de
esmalte colorido, com strass. brilho nos lábios, uma graça.
Apareceu aqui, em plena Semana Santa, com um
esmalte vermelho vivo. Eu brinquei:
No meu tempo, na Quaresma, a gente nâo podia
usar roupa muito estampada e... e... nem esmalte vermelho....
_ Por quê?
A Globinha – apelido da Alice, aqui em casa
-ficou pensativa e eu me esqueci daquilo.
Passado um tempo, volta a Alice nos seus
esplendorosos 10 anos:
_E assim, vó, dessa cor pode?
Desmaiei de rir... Ela pintara as unhas todas, inclusive as dos pés, de esmalte
preto... E ainda caprichou nos arabescos roxos....
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Da turma dos miudinhos, o Artur é o que já consegue conversar direitinho.
Com 4 anos, aprende tudo na escolinha.
Dia deste, eu vinha embora para Dores. E ele é apaixonado pela vovó
Brrrrrranca. Então, já viu, ia ser um choro só....
Minha nora quis desfazer o clima de emoção e falou:
_ Nossa, Artur. Conta pra vovó como é a poesia que você aprendeu, conta!
_ Qual?
_ A do arco-íris...
E ele, com os olhinhos molhados, recitou para a vovó - com voz de choro-
um poeminha do qual eu só consegui guardar:
“E o Deus pegou o pincel
E pintou um arco-íris
Lá no céu....”
_Será por que que a vovó só via, pra todo lado que olhava,um
arco-íris bem pertinho de seu olhar?
‑ Será por que ?
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Dores do Indaiá, 12 de março de 2008-
(Para a minha neta Fernanda que hoje faz 11 anos e que me ensinou a passar meu
primeiro e-mail)
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