ESCOLA
NORMAL
Uma
das melhores e mais brilhantes alunas do meu tempo – LUZIA PINTO DE ANDRADE- está
com a palavra hoje, dia 1º de abril. A
data é essa, mas tudo é VERDADE!
Luzia
foi minha colega de sala, e ninguém era mais inteligente do que ela, tendo
facilidade em todas as matéria inclusive na bendita MATEMÁTICA, Falo isso com
ela, até hoje. Ela fica rindo, com aquela carinha boa e começa a me jogar
confete...
Eu explico pra ela: Inteligente era
você, eu só escrevia bonitinho...
Luzia é casada com o Paulo Ribeiro de
Andrade – Paulo do Posto – primo do BEM e , coincidentemente, foram colegas
também...Daí, a amizade antiga e cheia de laços afetivos que nos une ainda
hoje.
Mas,
que a Luzia era a mais inteligente da turma, isso é verdade – nada a ver com
parentesco e afins...
Com
vocês, Luzia do Paulo:
..................................................................................................
Dores
do Indaiá, 25 de janeiro de 2011
Prezada Branca,
Com muito prazer e muito atraso, estou enviando as respostas de sua entrevista.
Nome
da entrevistada: Luzia Pinto de Andrade
Data:
25/01/2011
1
- Em que período você estudou na Escola Normal?
Estudei na Escola Normal no período de 1950 a 1957.
2
– Lembra-se dos nomes dos Professores?
Claro... D. Geiza e Irmã Vicência Balsamão (Curso de Admissão) – 1 ano
- Adélia de Oliveira (nossa paraninfa da 4ª. Série Ginasial –
Conceição Machado – Rosa Moura – Waldemar de Almeida Barbosa – Cenira
(professora de Ciências, não me lembro o sobrenome) – Carmen Fiúza – Jalma
Costa – Helena Machado – Hilda Bernardes – Leonardo Motta Vasconcelos – José de
Oliveira Carvalho – Padre Pedro – Aparecida França – Geny Soares – Pedrolina
Azevedo – João Neves – Rubens Fiúza – João Chagas de Faria (Dr. Di) – Maria
Helena Guimarães (D. Heleninha) – Míriam Machado – Sílvia Moura – Irany Moura –
Nilda Bernardes.
3
– Como era a disciplina?
A disciplina era muito rígida.
4
– Você era interna/externa?
Eu era interna.
5
– Se foi interna, como era a vida no Internato São José?
Apesar de ser uma disciplina muito severa eu gostava do Internato São José,
onde morei 8 anos. Levantávamos diariamente às 5h30, assistíamos à missa, em
latim, naquele tempo, portanto não participávamos, mas ouvíamos. Tomávamos o
café da manhã, em completo silêncio, umas 70 internas no refeitório. Após o
café, quem estudava de manhã ia para a aula e quem estudava
à
tarde, ia para a sala de estudos, em silêncio!... Depois de almoçarmos, ao meio
dia, íamos para o pátio, onde podíamos jogar vôlei, baralho, conversar,
brincar, fazer algum trabalho manual, tudo sob a supervisão de uma freira.
Tínhamos uma hora de recreio e voltávamos para a sala de estudos. Tínhamos o
café da tarde, cujo horário não me lembro. Jantávamos às 17 h, fazíamos um
pequeno descanso e íamos para a capela fazer a oração da noite. Fazíamos um
pequeno lanche e íamos preparar para dormir, no maior silêncio. No dormitório,
umas 20 ou mais internas, não se podia conversar.
Os banhos eram tomados durante o horário de estudos, em escala previamente
estabelecida, 3 vezes por semana. Em um ano de grande seca, buscávamos água em
uma mina, no fundo de um pasto atrás do internato, a uma distância bem
considerável, descendo um morro, para tomar banho de chuveiro de balde,
pendurado a uma corda que subia e descia através de uma roldana.
No parlatório recebíamos visitas de nossos pais. Só íamos em casa nas férias e
em feriados prolongados. As cartas recebidas de parentes eram abertas e lida
pela Irmã Superiora, para depois serem entregues. Cartas de namorados? Nem
pensar!... As mais espertas enviavam e recebiam através das colegas externas.
Ainda bem que eu não os tinha, apesar de ter me casado com meu vizinho de
frente, a quem eu namorava com os olhos.
Para sair à rua, somente acompanhada da “Maria Doida”, ou então a turma toda
acompanhada de uma freira. Nos dias chuvosos fazíamos o recreio no alpendre em
frente ao Internato. Era uma delícia...
6
– Quais eram as freiras de seu tempo?
As freiras do meu tempo foram:
Irmã Vicência Balsamão, a quem sua irmã sanguínea Irmã Eugênia Balsamão
escreveu uma carta, solicitando uma vaga para mim, no Internato, e a quem sou
eternamente grata; Irmã Catarina, Irmã Luiza, Irmã Motta, Irmã Luíza Guimarães,
Irmã Edith, Irmã Maria José Linhares e nossa saudosa Irmã Maria Filomena de
Oliveira.
7
– Lembra-se, ou teve notícias do terrível incêndio do Internato?
Quando houve o incêndio do Internato eu já era professora e fiquei sabendo da
notícia na manhã seguinte. Meu cunhado era vizinho e ajudou a resgatar o piano
e uma imagem de São José. Felizmente não houve vítimas. Só o sufoco e a
correria das internas que saíram de camisola e a Irmã Vicência que estava
sozinha com as internas foi socorrida por vizinhos e amigos. As alunas se
acomodaram nas casas de amigos e colegas.
8
– Havia alunos de todas as classes sociais na Escola? E de raças diferentes?
No meu tempo só estudavam meninas de todas as classes sociais, digo, alunas. Só
me lembro de uma negra na Escola, por sinal muito inteligente e depois, ótima
professora: Maria Campos de Paiva, já falecida.
9
– Como eram admitidos os alunos na Escola Normal?
Não era fácil ingressar na Escola Normal. Era como se fosse o Vestibular
atualmente. Para ser admitido na 1ª. Série Ginasial, antiga 5ª. Série, até
2000... e não sei quanto, havia uma prova de seleção, onde muita gente ficava
de fora. Para frequentar o 1º. Ano Normal ou de Magistério, a seleção era mais
rigorosa, inclusive com prova oral. Havia muitas alunas que não conseguiam e
ficavam estudando sozinhas, esperando próximo ano.
O Professor João Neves era o terror das alunas. Era professor de Matemática no
1º. Ano Normal. Na prova de seleção, desculpem-me a modéstia, tirei nota 100 na
prova escrita e na oral. Foi a maior façanha da minha vida de estudante.
10
– Conte detalhes de sua vida escolar: colegas, uniformes, aulas de Educação
Física, teatros.
Tive a maior façanha, mas também a maior decepção... Tínhamos de entregar um
trabalho de Latim e como cheguei um pouquinho atrasada, não pude entrar. Levei
a maior bronca da Irmã Superiora e creio que fiquei com zero. Quase morri de
chorar!... Estava na 5ª. Série ou 1ª. Série Ginasial.
Como eu era interna, não tinha muito contato com as externas, mas nos recreios
a gente se encontrava e fazíamos amizades. Umas ajudavam as outras naquilo que
tinham mais dificuldades. Eu era nula em desenho e gostava muito de bordar. Em
uma prova de Artes ou Trabalhos Manuais (não sei...) foi sorteado na prova
final, desenho ou bordado. Ganhou o desenho e a turma exultou de alegria. Eu
que só tinha nota 100, quase chorei! Tirei nota 5 na prova. Depois exultei de
agradecimento, pois formar com nota 100 sem saber desenhar era uma insensatez.
Lembrando o Professor João Neves, havia mês que, como a turma era pequena, ele
elaborava uma prova diferente para cada aluna.
O uniforme constava de uma saia azul marinho, de pregas, meias pretas ¾, blusa
branca de mangas compridas, uma gola marinheiro azul marinho com viés branco,
uma gravata azul marinho com tantas listas de fita vermelha correspondentes à
série, para o Ginasial. Por exemplo: 1a. Série Ginasial, uma fitinha; no Curso
Normal, tantas fitinhas verdes, como no Ginasial sobre os punhos da blusa havia
punhos azuis marinho com listas de viés branco. O uniforme era obrigatório,
completo, diariamente. O uniforme de Educação Física era composto de uma blusa
xadrez azul e branco, com gola esporte, mangas
curtas,
presa a uma fofoca (uma saia franzida, ou uma calça com elástico nas pernas,
tipo saia balonê), pouco acima dos joelhos.
Para os dias festivos havia um uniforme mais chique! O mesmo modelo, porém
branco, com fofoca godê, um pouquinho mais curta.
As aulas de Educação Física eram muito organizadas, dinâmicas, ministradas por
uma boa professora, a Jalma Costa, viva até hoje. Havia bons times de vôlei e
competições, entre as quais tive oportunidade de participar. Eram promovidos
muitos bons teatros. Nunca participei de nenhum.
11
– A Escola representava que papel na Sociedade?
A Escola representava um papel relevante na sociedade e era referência em
Educação não só no município, mas também no Estado.
12
– Um diploma de Normalista tinha significado diferente do de hoje? Por quê?
Um diploma de Normalista tinha um significado inestimável. Quem o alcançava
estava capacitado. Não tínhamos outra opção e nem todos que quisessem talvez
não pudessem.
13
– Fale sobre recreios, aulas diferentes, alunas-mestras, auditórios,
teatrinhos, merendas, Horas cívicas, aulas na Biblioteca, desfiles nas
comemorações, enfim, relate fatos – de qualquer natureza – que você presenciou,
viveu ou observou. Esses fatos podem fazer parte de uma história diferenciada
sobre o ensino de uma época.
Os recreios eram feitos no pátio da Escola, com a supervisão da Inspetora de
Alunas, com a merenda e encontro de todas as classes. A merenda era vendida na
Escola e quem quisesse levava de casa. As alunas mestras faziam estágio na
própria Escola, nas Classes Anexas. Meu estágio foi sobre o aparelho locomotor,
numa classe de 4ª. Série Primária, encerrando com uma aula de Educação Física,
apreciada pela professora da classe, Olga Nogueira. Quando a professora de
Educação Física soube da minha aula, disse que eu deveria tê-la convidado, para
que a aula servisse como prova demonstrativa no meu 3º. Ano Normal.
Havia vários auditórios no Salão Nobre, com um belo palco. Nossa turma, não me
lembro bem em que série, apresentou em um destes, o hino da França, cantado em
francês, creio que ensaiado pela Geny Soares. E cantamos: “Allons enfants de la
Patrie! Le jour de gloire est arrivé... Contre nous de la tyrannie...
L´etendard sanglant elevé...”.
De horas cívicas me lembro pouco de algumas professoras, como Jalma Costa e
Aparecida França, que davam noções de comportamento, etiqueta social e receitas
culinárias.
Tínhamos uma aula na Biblioteca, por sinal muito rica, creio que uma vez por
semana, não sei se em todas as séries. Como eu não tinha hábito de leitura, não
me agradava muito.
Os desfiles nas comemorações eram esperados com ansiedade. Todas as alunas
muito bem uniformizadas, depois de vários ensaios, acompanhados de belo rapazes
com dois tambores, marchavam garbosamente pela avenida principal da cidade.
Foi um tempo maravilhoso!...
Branca, não sei se vou chegar a tempo ou se vou ficar com zero, mas valeu...
Um grande abraço da amiga e colega,
Luzia.
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