terça-feira, 22 de abril de 2014

MAIS CAUSOS DA ESCOLA NORMAL.
                                        Maria


A hora do Hino Nacional sempre trouxe algum acontecimento que merece ser lembrado...
Bandeiras, filas, mão no peito, solenidade. Disciplina exemplar.
Lucinha de Souza ( filha da Sinhá e do Sô Osvaldo do Grilo) era a segunda aluna da fila do 1º ano, em ordem de tamanho. A primeira, era  menor ainda - Altina Lúcia, minha filha: dois tiquinhos de gente....
Na fila dos homens, o primeiro era o Geraldinho Ribeiro, filho do Sô Ildeu Ribeiro e da D. Terezinha). Ele era redondinho, um encanto. Chorava à-toa - era muito sensível - e tinha sempre à mão um enorme lenço que a mãe, cuidadosamente, punha em seu bolso.
Pois bem, não sei o porquê, mas bem na hora que falamos: "E o sol da liberdade em raios fúlgidos...! " a Lucinha deu um amarelão, foi caindo, caindo e ploft!
No tombo, derrubou a Altina Lúcia,  que derrubou o Geraldinho que derrubou o Ivamar, que derrubou a Fernanda... Foi um dominó... Caiu todo mundo!
No final, socorremos a Lucinha - foi mal-estar passageiro  e fomos achar o Geraldinho chorando, chorando, dessa grossura, com um lenço grande, branquinhoooo....
_ Você se machucou?
_Não....
-Então, não precisa chorar...
_Estou chorando porque sujei meu lenço novo....
Até hoje, quando falo/canto o sol da liberdade...revejo a cena e morro de saudades de meus alunos....
............................................................................................................................................................

Hino Nacional

Os alunos que terminavam o quarto ano iam para o turno da tarde... As Classes Anexas funcionavam de manhã.
Eles sentiam falta dos colegas, dos recreios e as matérias eram novas, diferentes. Então, eles viviam rondando o ninho antigo. Faziam Educação Física bem cedinho, voltavam para casa e o  horário normal das aulas só começava ao meio dia.
Não raro, enquanto cantávamos o Hino Nacional, lá estava um grupinho de alunos, matando saudades e se exibindo para os pequenos - já que estavam importantes, no Ginasial...
Dessa vez, era uma comemoração mais solene. O Diretor e alguns Professores estavam perfilados no alto da escada. Nós, as professoras, ficávamos - montando guarda - atrás dos alunos, dos últimos da fila.
Eu, sempre míope, querendo zelar pela ordem e disciplina.
Tudo bem. Bandeira subindo...
De repente, um mocinho chega do lado das escadas, galga os degraus e, de um pulo, alcança as colunas da frente, onde havia reentrâncias esculpidas.
O mocinho se exibindo, fazendo malabarismos para não cair...  Equilibrava-se, passava para o outro vão, cai não cai...
Cochichei pra professora, Zuleica Lacerda- sem me virar: (Ninguém podia virar a cabeça, gesticular...)
_Zuleica, olha só que absurdo aquele mocinho! Vê se isso é hora de brincar. Que falta de respeito! Será que a mãe dele não lhe deu educação?
_ Onde, D. Branca?
_ Lá, olha lá na frente, aquele lá...Quase derrubando os professores lá no alto....
Então ela, morrendo de rir:
_D. Branca, aquele lá é o Ricardo, filho da senhora...
Não dei mais um pio e pedi aos céus pro Hino acabar rápido....
.......................................................................................................................................
Eu estava começando a trabalhar nas Classes Anexas, me esforçava para ser pontual, para ser  cada dia melhor...E acabava de ocupar o cargo de Coordenadora... 
Então, eu recebia os alunos com um abraço, um afago...
Ajudava-os com as pastas enormes, ajeitava-lhes os cabelos, a gola, essas coisinhas...
Muitos vinha mde bicicleta - estava no auge - e eu ficava cuidando para que se desembaraçassem com segurança, guardassem as magrelas e fossem para a fila...
Então, tive uma surpresa: o Juscelino - hoje, o Doutor Juscelino Pinto da Cunha Netto - veio chegando, de mansinho, conduzindo sua ...seu....
_O quê é isso, Juscelino?
_ Atravessou a rua assim? Que perigo, menino? Sua mãe sabe?
_ Uai, D. Branca, todo mundo vem de bicicleta...Então, eu vim de VELOCÍPEDE...
(Ele era muito pequeno - Prezinho - e ainda não podia andar de bicicleta, além de morar pertinho da escola....)
Com toda importância, ele guardou sua linda bite ao lado das mil bicicletas dos alunos maiores....
Nota: Tive de me esconder atrás da coluna do saguão pra não morrer de rir....

.......................................................................................................................................................................
Dores do Indaiá, 22 de abril de 2014.




Nenhum comentário:

Postar um comentário