quarta-feira, 23 de abril de 2014






ESCOLA NORMAL
MARIA
 
Vejam a riqueza de detalhes que a Dalva Argolo nos passou!





Branca, querida,

 

            Pouco nos vemos ou nos comunicamos, mas você é querida sim! Sigo todos os seus artigos no “O LUTADOR”.

            A vida de hoje é uma correria danada para todo mundo e, muitas vezes, deixamos de conviver com pessoas que admiramos.

            Você é uma delas.

            A seu pedido, fiz um resumo do que me lembrei sobre a vida que vivi na famosa Escola Normal Oficial “Francisco Campos”.

            Como ela foi importante para todos nós!

            Foi com emoção que revivi fatos escondidos na gaveta de baixo de nossa vida. E assim, o baú da saudade se abriu e senti como fomos e somos felizes.

            Um grande abraço

                        Da Dalva Argolo

 
Nome do(a) entrevistado(a): Dalva Argolo Lolmer

Data14 DE SETEMBRO DE 2010.

1 – Em que período você estudou na Escola Normal?

De 1936 a 1945, sendo de 1936 a 1939 nas Classes Anexas à Escola Normal Oficial “Francisco Campos” e o restante no Curso Normal. A formatura se deu em 08/12/1945, dia em que terminou a 2ª. Guerra Mundial.

 

2 – Lembra-se dos nomes dos Professores?   

Primário: Walkyria Guimarães, Altina Costa, Alda Lobato, Selva Augusta de Souza e outras.

Curso Normal:

Diretores: Dr. Edgar Pinto Fiúza e Anselmo Barreto

Professores: Aspásia Vieira Ayer, Ester Alves, João Neves (Matemática), Anita Silveira (Geografia), Maria Rita Oliveira, Célia Oliveira (Canto), Carmen Fiúza (Canto), Galdina Costa (Português e Francês), Palmira Lobo (Educação Física), Jalma de Almeida Costa (Educação Física), Cenira Melo e Adélia de Oliveira.

3 – Como era a disciplina?

As normas disciplinares eram obedecidas naturalmente, devido à boa formação familiar e ao respeito que se tinha à autoridade dos Mestres, que eram recebidos de pé, ao entrarem nas salas. O próprio uniforme era, de fato, “uma forma”, ostentado com capricho e orgulho.

 

4 – Você era interna/externa?

Não fui aluna interna, pois morava na cidade. Contudo, convivi com alunas internas que residiam em Abaeté, Biquinhas, Luz, Bom Despacho. Vez ou outra levava colegas para passarem o fim de semana em minha casa.

 

5 – Se foi interna, como era a vida no Internato São José?

Não fui interna.

 

6 – Quais eram as freiras de seu tempo?

Ir. Teixeira, Ir. Maria José Linhas e Ir. Vicência.

 

7 – Lembra-se, ou teve notícias do terrível incêndio do Internato?

Não sei a causa do incêndio, mas lembro-me que aconteceu à noite. As internas correram apavoradas para o jardim da Escola, vestidas com trajes de dormir: camisola ou pijama, com o pensionato em chamas. Soube de uma das alunas que voltou ao local do incêndio para buscar uma caneta que havia ganho de seu pai... Ela quase morreu para salvar sua caneta.

 

8 – Havia alunos de todas as classes sociais na Escola? E de raças diferentes?

Nada impedia que alunos de classes sociais mais baixas ou raças diferentes frequentassem a Escola. Entretanto, a exclusão era feita naturalmente: os pobres se afastavam da cultura e do convívio social.

 

9 – Como eram admitidos os alunos na Escola Normal?

Através de fichas contendo dados familiares, culturais e econômicos. Havia a caixa escolar (creio que havia uma contribuição mensal para auxiliar com merendas e objetos).

 

10 – Conte detalhes de sua vida escolar: colegas, uniformes, aulas de Educação Física, teatros.

A cidade vivia em função da Igreja N. Sra. Das Dores e da Escola Normal. O nível cultural ultrapassava fronteiras municipais e muitos professores vinham “de fora” para lecionarem neste importante educandário. Estudar na Escola Normal era status para as moças de Dores, Luz, Abaeté, Bom Despacho, Córrego D´anta, etc.

Os rapazes não estudavam ali, pois a profissão de magistério era reservada apenas para mulheres. O diploma de normalista dava direito a exercer o magistério com contrato imediato, até que saísse a nomeação para o cargo.

O Salão Nobre da Escola era suntuoso, com cortinas palacianas. As reuniões e festas artísticas, cívicas e culturais atraíam a sociedade dorense. Destacamos as apresentações alegres de três irmãs residentes em Luz: Lilita, Maria Geralda e Dorinha Botinha. Dora, minha irmã, diz que Lilita era a Elis Regina daquela época. Os rapazes aproveitavam estes momentos para verem suas amadas internas.

Os treinos de vôlei aconteciam à tarde, na quadra de esportes. O portão lateral ficava aberto ao público e a frequência de moças e rapazes era uma festa.

Desfiles patrióticos – as “paradas” de 7 de Setembro, data da Independência e 8 de Outubro, aniversário da cidade, eram engalanadas com garbo pomposo, acompanhados pela Banda Santa Cecília e o povo na rua, prestigiando o evento.

Uniformes – eram de fato “uma forma”, com apresentação impecável. As saias pregueadas, de casemira azul marinho, eram colocadas à noite sob o colchão, para que as pregas não perdessem o seu estilo. Era um orgulho ostentar o uniforme da Escola.

Educação Física – era de xadrezinho azul e branco. Como as pernas não podiam ficar “de fora”, o calção era rodado, com elástico nas pernas. Hoje seria horrível vesti-lo.

Classes Anexas – correspondia ao “primário”, de 1ª. a 4ª. série, servindo de estágio às alunas que se formariam no Curso Normal, para as futuras professoras.

A alfabetização se dava pelo método global experimental e poucas cidades tiveram o privilégio de assumir a implantação do método. Era a inversão total da alfabetização, pois partia da estória, frases, palavras e letras. A apresentação de cada cartaz ilustrado, contando a estória, consistia em festa.

                                               Primeiro Cartaz

                                   Eu me chamo LIli

                                   Eu comi muito doce

                                   Vocês gostam de doce?

                                   Eu gosto tanto de doce!...

As provas finais, para se passar de ano, eram enviadas a todo o Estado, pela Secretaria de Educação, em envelopes lacrados.

As professoras seguiam seus alunos do 1º. ao 4º. Ano (como era chamado) e lecionavam todas as matérias.

O caderno de caligrafia educava no controle da letra cursiva.

No Curso Normal, muitas aulas de literatura eram dadas no pátio arborizado da Escola. Galdina Costa, a professora, nos ensinava a admirar a natureza e passar para o papel suas nuances literárias.

Os bailes de formatura aconteciam no Salão Nobre da Escola, com traje a rigor e orquestra “de fora”.

           

11 – A Escola representava que papel na Sociedade?

A Igreja e a Escola Normal eram centro culturais de grande influência na sociedade dorense. O diploma de Normalista era o máximo que se ambicionava e o contrato de trabalho, imediato.

O professor era, de fato, um educador, pois havia a matéria “Moral e Cívica” que. Orientava as professoras.
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Dores do Indaiá, 23 de abril DE 2014

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