sábado, 15 de fevereiro de 2014


PRIMEIROS PASSOS DA ESCRITORA  MARIA

 

            Já contei como comecei a publicar minhas crônicas no jornal de Dores do Indaiá.

             Naquele tempo, não havia vozes femininas no jornal. E eu querendo iniciar minha carreira. Era uma ótima oportunidade para eu iniciar meu trabalho literário...

             Então, resolvemos: eu ia enviar minhas crônicas para o jornal, sem ninguém saber quem eu era...

            Foi um Deus nos acuda. Nas poucas horas de folga – eu trabalhava em todos os horários nos Colégios e tinha seis filhos pequenos, uma escadinha...eu escrevia, o BEM lia, dava palpites e datilografava a página – ele era muito melhor do que em datilografia. E... depois, à noite, sem que ninguém notasse, ele ia e colocava as folhas debaixo da porta da Gráfica. Tudo no maior anonimato .

            Mas, a aceitação foi ótima, havia comentários nas MINI-NOTAS, havia grande curiosidade para se saber quem era a MARIA.

 

            Bem, até há pouco tempo, eu pensava que foi assim, o maior segredo...   Então, recebi uma carta do Antônio Carlos de Araújo Santos – hoje, Sô Araújo; à época, era o garotinho que trabalhava na Gráfica. Caí das nuvens! Eles eram muito mais espertos do que eu pensava...

            Eis a carta dele:

 

            Por volta de 1957, com apenas 12 anos, através de parentes com prestígio, consegui o meu primeiro emprego. Trabalhei sem nenhuma remuneração (mas sem nenhuma mesmo). Para mim, o maior pagamento era a possibilidade de aprender o ofício de TIPÓGRAFO.

            Quanto orgulho eu e minha família sentíamos! Minhas irmãs, então, não se continham! Tinham um irmão que trabalhava na gráfica O LIBERAL! Trabalhava mesmo! Lavava banheiro, varria, corria, corria...Buscava daqui, entregava dali, sempre correndo.Tal correria se justificava por um único objetivo:fazia o tempo sobrar, para assim aprender com o LUIZ TIPÓGRAFO alguma coisa da profissão que tanto orgulho me dava.

            Guardo com boas lembranças os ensinamentos do FREI PIO. Com seus quase dois metros de altura, sua  batina surrada, cheia de remendos, mas sempre muito limpa, mantinha uma postura rígida, mas com muito carinho e muita respeitabilidade. Quando não era o Frei Pio, lá estava o BENTO GALVANI. Este, por sua vez, com seu jeito paciencioso , contudo, sempre pronto a  repreender e a ensinar, não só me iniciou na profissão, como também na vida.

            O LIBERAL era semanal, logo quinta-feira era uma correria generalizada. Imaginem então como acelerava: o PINGA FOGO, corria ainda mais. Buscava matérias e levava provas do jornal pra serem corrigidas pelo PROFESSOR JOÃO NEVES. Tremia ao imaginar sua cara fechada e as broncas pelos erros. Dentre esse material, estavam também maravilhosas crônicas escritas por autora secreta. Todos queriam saber quem assinava os referidos textos, já que circulavam sob o codinome ‘MARIA’. E eu (quanta responsabilidade!) sabia quem era MARIA, mas não podia contar nem pra minhas irmãs. Ordens do BENTO.

            _Se você contar, vai perder o emprego!

            (.....)

            E hoje, anos depois, orgulhosamente, RECEBO HOMENAGEM  desse jornal que faz parte da minha vida e da minha História.

            Viva a Gráfica O LIBRERAL, viva LUIZ TIPÓGRAFO, FREI PIO E BENTO GALVANI!

                                               Cordialmente,

                                                Pinga Fogo.

         Antônio Carlos de Araújo Santos (Eletrodos Star)

 

ET: Quero deixar bem claro que em momento algum me arrependo de ter trabalhado sem remuneração...

 

Nota minha: A correspondência foi dirigida à Chefe de Comunicação da Prefeitura, à época: Cecília Lino.

Quanto ao PINGA FOGO, hoje é empresário de sucesso na Grande BH.

Obrigada, Sô Araújo, tive muita emoção em relembrar uma época tão importante para minha carreira de escritora...  

 

Dores do Indaiá, 15 de fevereiro de 2014.

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