PRIMEIROS
PASSOS DA ESCRITORA MARIA
Já contei como comecei a publicar
minhas crônicas no jornal de Dores do Indaiá.
Naquele tempo, não havia vozes femininas no
jornal. E eu querendo iniciar minha carreira. Era uma ótima oportunidade para
eu iniciar meu trabalho literário...
Então, resolvemos: eu ia enviar minhas
crônicas para o jornal, sem ninguém saber quem eu era...
Foi um Deus nos acuda. Nas poucas
horas de folga – eu trabalhava em todos os horários nos Colégios e tinha seis
filhos pequenos, uma escadinha...eu escrevia, o BEM lia, dava palpites e datilografava
a página – ele era muito melhor do que em datilografia. E... depois, à noite,
sem que ninguém notasse, ele ia e colocava as folhas debaixo da porta da
Gráfica. Tudo no maior anonimato .
Mas, a aceitação foi ótima, havia
comentários nas MINI-NOTAS, havia grande curiosidade para se saber quem era a
MARIA.
Bem, até há pouco tempo, eu pensava
que foi assim, o maior segredo...
Então, recebi uma carta do Antônio Carlos de Araújo Santos – hoje, Sô
Araújo; à época, era o garotinho que trabalhava na Gráfica. Caí das nuvens!
Eles eram muito mais espertos do que eu pensava...
Eis a carta dele:
“Por
volta de 1957, com apenas 12 anos, através de parentes com prestígio, consegui
o meu primeiro emprego. Trabalhei sem nenhuma remuneração (mas sem nenhuma
mesmo). Para mim, o maior pagamento era a possibilidade de aprender o ofício de
TIPÓGRAFO.
Quanto
orgulho eu e minha família sentíamos! Minhas irmãs, então, não se continham!
Tinham um irmão que trabalhava na gráfica O LIBERAL! Trabalhava mesmo! Lavava
banheiro, varria, corria, corria...Buscava daqui, entregava dali, sempre
correndo.Tal correria se justificava por um único objetivo:fazia o tempo
sobrar, para assim aprender com o LUIZ TIPÓGRAFO alguma coisa da profissão que
tanto orgulho me dava.
Guardo
com boas lembranças os ensinamentos do FREI PIO. Com seus quase dois metros de
altura, sua batina surrada, cheia de
remendos, mas sempre muito limpa, mantinha uma postura rígida, mas com muito
carinho e muita respeitabilidade. Quando não era o Frei Pio, lá estava o BENTO
GALVANI. Este, por sua vez, com seu jeito paciencioso , contudo, sempre pronto
a repreender e a ensinar, não só me
iniciou na profissão, como também na vida.
O
LIBERAL era semanal, logo quinta-feira era uma correria generalizada. Imaginem
então como acelerava: o PINGA FOGO, corria ainda mais. Buscava matérias e
levava provas do jornal pra serem corrigidas pelo PROFESSOR JOÃO NEVES. Tremia
ao imaginar sua cara fechada e as broncas pelos erros. Dentre esse material,
estavam também maravilhosas crônicas escritas por autora secreta. Todos queriam
saber quem assinava os referidos textos, já que circulavam sob o codinome
‘MARIA’. E eu (quanta responsabilidade!) sabia quem era MARIA, mas não podia
contar nem pra minhas irmãs. Ordens do BENTO.
_Se
você contar, vai perder o emprego!
(.....)
E
hoje, anos depois, orgulhosamente, RECEBO HOMENAGEM desse jornal que faz parte da minha vida e da
minha História.
Viva
a Gráfica O LIBRERAL, viva LUIZ TIPÓGRAFO, FREI PIO E BENTO GALVANI!
Cordialmente,
Pinga Fogo.
Antônio Carlos de Araújo
Santos (Eletrodos Star)
ET: Quero deixar bem claro que em momento algum me arrependo de ter
trabalhado sem remuneração...
Nota minha: A correspondência foi
dirigida à Chefe de Comunicação da Prefeitura, à época: Cecília Lino.
Quanto ao PINGA FOGO, hoje é empresário
de sucesso na Grande BH.
Obrigada, Sô Araújo, tive muita emoção
em relembrar uma época tão importante para minha carreira de escritora...
Dores do Indaiá, 15 de fevereiro de
2014.
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