NOSSOS POETAS
-O Liberal-29/6-93
Maria
CARMINHA GOUTHIER
Maria do Carmo Sousa Coelho, nasceu em Dores do Indaiá em
16 de abril de 1903. Era filha de Paulino de Paula Sousa e Afra Gontijo de
Sousa. Tinha quatro irmãos: Adélia, Ruth, Alzira e o caçula, Odilon.
A casa onde nasceu pertence hoje à família do senhor
Homero Ribeiro, situada na Praça de São Sebastião, hoje, Praça Alexandre
Lacerda Filho, bem ao lado da primeira igreja de Dores do Indaiá, pequena,
singela, encantadora... Suas raras fotos
são o símbolo da fé do povo dorense,
transformado-se em símbolo dos primóridos do município que ali, à sua sombra, deu os primeiros
passos na história que iria construir ao
longo dos anos.
Seu pai foi o
primeiro jornalista da cidade e o proprietário da primeira gráfica da região.
Em homenagem a ele, Dores do Indaiá nomeou uma rua do Bairro São Sebastião com
seu nome: Rua Paulino de Sousa.
A jovem poetisa era conhecida pelo carinhoso nome de
Carminha e foi assim que passou a ser conhecida por seus trabalhos literários.
Em 1921, casou-se com o Dr. Hudson Gouthier de Oliveira
Gondim. Residiu em Bom Despacho, Mariana e Belo Horizonte, acompanhando o
marido que exercia o cargo de Juiz de
Direito.
Seus poemas, ricos em espiritualidade, sem dúvida, expressam a
maior voz feminina da poesia mística do Brasil.
Sobre ela, temos a palavra de grandes escritores:
“Esse livro( A Luz e o Trigo) foge ao comum de nossa
produção poética. Ao primor da qualidade literária, junta uma fome, uma
necessidade de ABSOLUTO, raríssima entre nós...” (Carlos Drummond de Andrade)
“Carminha Gouthier sempre viveu a poesia com intensidade
e, sobretudo, com humildade. Daí, traduzir os seus sentimentos com pureza e
força , numa visão mística que representa, antes de tudo, comunhão generosa com
as coisas e as criaturas.” (Alphonsus de Guimaraens Filho)
“Carminha Gouthier se desvia do efêmero, captando, em
versos de grande ressonância, a parte essencial da nossa vida de
espírito”.(Murilo Mendes)
“Sem estar presa a escolas literárias ou a modas poéticas
de vanguarda, Carminha Gouthier, que soube aproveitar do movimento modernista o
que nele havia de realmente renovador e construtor, dá-nos uma poesia de
elevado tom espiritual, que flui com clareza e harmonia, como uma fonte de água pura e límpida.” (Oscar
Mendes).
Aqui , seu poema A DORES DO INDAIÁ, foi amplamente
conhecido nas escolas primárias – não havia reunião social em que o poema não fosse apresentado:
“Dores do Indaiá era desse tamaninho. E gostava
de dormir mansamente resignada na sua vida simples de todo o dia”
A Serra da Saudade foi cantada por Carminha em tom de encantamento, jamais superado em
beleza e poesia: “O horizonte de
minha terra é uma pincelada Azul.”
Profundamente religiosa, tinha afinidade espiritual
com São Francisco de Assis - o santo da Natureza, tema recorrente em sua
poesia: flores, singelezas, humildade, desapego aos bens materiais, Carminha
Gouthier pode ser lembrada como uma Santa- Poetisa ou uma Poetisa- Santa...
Seu nome foi homenageado pela Associação dos Amigos de
Dores do Indaiá – ADI, em 7 de abril de 2001 e seu Centenário – 2003 - foi
lembrado com inúmeras homenagens na sua
terra natal.
Dentre as homenagens, organizadas pela Prefeitura de Dores do Indaiá, foi lançado o livro MYSTICA POESIA – poemas
reunidos, organizado por outro grande intelectual dorense, primo de Carminha –
JOSÉ HIPÓLITO DE MOURA FARIA. É um trabalho primoroso, onde o autor comenta a
poesia de Carminha Gouthier, em linguagem profunda, digna da homenageada.
Por sua modéstia, inerente ao seu modo de viver, teve apenas
dois livros publicados, por insistência de amigos.: A LUZ E O TRIGO, publicado
pela Editora Itatiaia, em 1961 e ESPANTANLHO DE DEUS, pela Editora Lar
Católico, em 1967.
Carminha Gouthier faleceu em 5 de junho de 1983, em Belo
Horizonte, não deixando filhos.
Escolhi dois poemas para ilustrar a página dedicada à
maior poetisa mística do Brasil, orgulho
de Dores do Indaiá.
O primeiro é poesia intimista,
dedicado a Francisco Campos, “o príncipe que despertou a cidadezinha pra o
progresso”
O segundo, é um
dos meus preferidos e faz parte do livro ESPANTALHO DE DEUS.
DORES DO INDAIÁ
Dores do Indaiá era deste tamaninho
E gostava de dormir resignada
Na sua vida simples de todo dia.
Dores do Indaiá tinha preguiça de crescer
De abrir os braços
Para frutificar.
E ficava bem quieta sonhando
Entre as serras azuis que acordam saudades
E os córregos humildes que lavam o chão.
Dores do Indaiá!
Quede a cidadezinha que tinha preguiça de caminhar?
Quede as casas de barro onde as janelas tortas
Espiavam a gente?
Quede o carro de bois que gemia de dor
No silêncio das ruas?
Dores do Indaiá!
Mil vozes cantando ressurreição.
Andaimes nos corpos das casas grandes e novas.
Andaimes na tua alma rejuvenescida
Ao calor das vitórias.
Na Tua alma que dá sombra e finca raízes.
Transpondo o limite das serras azuis
E dos córregos humildes .
Dores do Indaiá!
Era uma vez uma linda princesa,
há muito
adormecida...
Era uma vez um belo príncipe
Perdidamente enamorado
Que foi sozinho despertá-la.
E deu-lhe vestidos de ouro puro
deu-lhe joias maravilhosas
deu-lhe coroa de estrelas
deu-lhe castelos encantados.
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(Publicado
em O
Liberal, escrito quando de uma visita da autora à cidade natal)
NOTA:
O poema acima foi declamado pelo poeta dorense, ANTÔNIO CAETANO DA SILVA
GUIMARÃES JÚNIOR - Tonico Caetano - em
homenagem a FRANCISCO CAMPOS, em uma das visitas do maior benfeitor da cidade a Dores do
Indaiá.
Afinal,
ficou tudo em família: a poetisa, o poeta e o ilustre Jurista são primos, todos
descendentes de Juca de Sousa.
E
eu tenho o maior orgulho de que meus filhos sejam da mesma raiz familiar da
grande poetisa, pelo lado paterno. Eu, a mãe, só sirvo de admiradora da grande
poetisa, cujos versos repassei a todos
os alunos nas salas de aula por onde andei...
HUMILDADE
Não vos peço mais
Senhor
A felicidade grande, daquela que está escrita
Nos livros.
Quero somente alguns retalhos dela.
Saberei uni-los.
Farei remendos
prodigiosos
Porque o tempo foi meu mestre de costura.
A minha felicidade será assim
Como um vestido de menina pobre.
E eu vos darei muitas graças
Senhor
muitas graças.
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Fico
feliz em passar a vocês a poesia de Carminha Gouthier, que era POETA MAIOR e não sabia... Ou não
queria acreditar que o era!
Nota:
Aqui, ainda há parentes de Carminha Gouthier:além dos citados, temos ainda a
Márcia Gouthier, grande incentivadora da ADI e o seu atual Presidente,José
Antônio de Faria Guimarães ambos residentes em Belo Horizonte.
Fonte:
Mystica Poesia,- José Hipólito de Moura Faria, Coluna - Antologia da Poesia
Dorense, de Rubens Fiúza, em O Liberal Dores do Indaiá, abril de 99 e notas de meu arquivo particular.
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Dores do Indaiá, 19 de
fevereiro de 2014.
Adorei. Muito rica a história da cidade. Rica e encantadora. Uma pena que seja conhecida por tão poucos.
ResponderExcluirOi, amiga Branca! Que bom saber das histórias desta terra tão rica! Um beijo!
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