quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014


HISTÓRIA DA MARIA – Como surgiu a cronista?

 

        Eu nasci em Dores do Indaiá,  em outubro de 1937, numa casa pequena, já demolida, ao lado do então Seminário São Rafael, na Rua Dr. Zacarias. Hoje em dia, ainda existem vestígios  do que fora a casa –  suas paredes antigas estão lá, no pátio interno do Seminário,  e fazem parte da construção da cozinha do prédio... (Não é por acaso que gosto tanto de cozinha, de igreja e de sinos  e de anjos...)

        Nesta casa,  antes do meu nascimento, funcionou  uma republica de rapazes: João Neves, Zé Pretinho, Antônio Alves e outros.

        Meus pais se mudaram para Estrela do Indaiá ,  quando eu era  bem pequena: foi lá que completei dois anos de idade.

 

        Em Estrela do Indaiá, morei por vinte e dois anos.  Mas cresci entre minhas duas cidades – Estrela e Dores do Indaiá. (Também, não é por acaso que meu coração nunca soube ao certo, qual é a sua cidade : falo que sou de ESTRELADORES...)

        Desde pequena, eu  escrevia sobre o que me rodeava: pessoas, bichos, livros e brinquedos, sobre Deus e anjos, sobre bruxos e fadas. Naquele tempo, nossa distração não ia além disso, alguns jornais e revistas, pai, mãe, quintais, mês de maio...       No Grupo Primário, em Estrela do Indaiá, onde cresci,  as professoras sempre falavam que eu escrevia bonitinho demais! Então, eu tomei gosto pela escrita e caprichava mais, mais e mais...

 

        Minha primeira crônica, publicada no O LIBERAL de 7 de abril de 1973, veio em decorrência de um estímulo, por parte de D. Tatão Caetano Camargos, a famosa professora de Datilografia, com quem fiz o curso completo.Então, eu já era casada com o BEM (Ricardo) e já tinha meus seis filhos, uma escadinha de um a oito anos...

        No final do Curso, eram pedidos dois trabalhos difíceis: uma redação oficial e outra  à escolha do aluno.

        Eu escrevi uma carta a meus seis  filhos, todos pequenos, falando da alegria de tê-los e das características  de cada um, o quê me fazia certa de que, eu e o BEM – seus pais – seríamos eternizados : um deles, tinha os dentinhos separados, outra tinha covinhas no rosto, um gostava de criar passarinhos, duas das meninas tinham os cabelos cacheados e pretos  e só uma os tinha claros e lisos como os meus. Eles carregavam nosso jeito enosso coração que, por certo, iriam continuar...

        D. Tatão se entusiasmou com minha carta/ exercício e quase exigiu que eu a publicasse no jornal O LIBERAL, à época, dirigido por Antônio Lopes Cançado e Bento Galvani.Eles acolheram meu trabalho, os leitroes apreciaram a minha crônica e...

        Daí pra cá, não parei mais de colaborar com os jornais da terrinha, com os  de Estrela do Indaiá, de Luz, de Abaeté e de Belo Horizonte, onde sou a mais antiga articulista do jornal O LUTADOR , colaborando, semanalmete, desde 17 de fevereiro de 1980.

        Meu pseudônimo foi escolhido em homenagem a minha mãe, que se chamava MARIA JOSÉ . Como cronista, sou MARIA.

 

                MINHA PRIMEIRA CRÔNICA:

 

                MEUS FILHOS E EDEUS.

                                Maria

 

        E foi um berreiro daqueles!

        Abaixei-me para ver o que acontecia em baixo da mesa onde eu passava roupa: era o lugar predileto para  para o brinquedo dos meus filhos: além do mais, dali eu podia controlar melhor a minha turminha.

        O motivo do berreiro?

        Besouros!

        Eles pegaram um punhado de besouros e, cada qual arranjara uma casinha ideal para os seus      ” boizinhos”...

        Os boizinhos do menor aproveitaram um cochilo dos carreiros e saíram da casinha, causando aquele choro todo.

        _ Chora não, sô! Eu te dou o meu boizinho cinzento!

        E o irmão tentava consolar o menino.

        _ Eu não quero o seu, não!  O meu é que tem FRICHE...

        (O menor, trocava as sílabas das palavras- estava com quatro anos ainda...)

        _ Não é FRICHE... É CHI-FRE... CHI –FRE..  (o mais velho tirava casquinha do menor, corrigindo-o)

        _ Pois é, custei a arranjar um de FRICHE...

        Aí então, Deus foi lembrado:

        _Reza, bobo... Num instantinho, Deus acha o seu” bizorro”

        _ Acha nada! Eu tô aqui pertinho e não acho!

        _Mas... Deus tá no céu e de lá Ele vê tudo!

        _Vê não! Vê nã -ã- ã –ão!

        Fiquei atenta. Os dois ficaram caladinhos, caladinhos...(Eu penso – esperavam um sinal de Deus...)

        Aí, o choro recomeçou. E a busca também: procuraram no gruada-roupas, debaixo das camas e até dentro dos meus chinelos, abandonados pelo calor...

        E, como o Eduardo não se calava, o mais velho, Ricardo Antônio, resolveu tirar o besouro de dentro do bolso, onde o havia escondido, tentando enganar o irmãozinho...

        Não querendo dar o braço a torcer, meio envergonhado, falou:

        _Aqui! Achei! Achei ele procê! Não falei que Deus acha tudo!

        E o pequeno, desconfiado da manobra do irmão: Eu acredito que Deus acha “Bizorro “perdido”, mas...só se Ele fizer uma casinha de joão-de-barro pra mim, agora.  A-go-ra!

        E, com o dedinho gorducho marcava um lugar no chão esperando a casinha do joão-de-barro aparecer...

        Entrei em cena e dei uma colherzinha de chá pra Deus...

        Porque, se a conversa continuasse, eu acho que a casinha de joão-de-barro teria de aparecer, na hora.

        _ Ah, isso teria....

        .........................................................................................

(Essa crônica é em homenagem à memória de  D. Maria da Conceição Caetano Camargos – D. Tatão, ao Bento Galvani e Antônio Lopes Cançado, proprietários da Gráfica e Jornal O LIBERAL)

        Dores do Indaiá, 15 de janeiro de 2014.

 

 

 

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