VIGÍLIA
Pois então.
Até pensei em ficar quieta no meu
(en)canto...
Meu coração (des)usado e antiguinho achava
muito costa-a-cima vir para o computador, muito mais esperto do que a Maria,
passando na minha frente como se fosse dono absoluto do mundo. Mas... pensando
bem... Fico com peninha de guardar as coisas bonitas que vejo cá nas Dores sem
dores... Fico imaginando: Ah! Se o povo todo visse o céu que estou vendo....
Ah! Se quem está longe ouvisse o que estou ouvindo...Sei não...
Aí resolvi. Pra que guardar tanta
poesia, tanta paz só pra mim? Meu coração doidinho (con)corda e me passa um
pito: É mesmo, Maria! É até pecado não repartir tanta beleza com os outros...
Eles morrem de saudade daqui! Custa você pegar a chavinha mágica e abrir a alma
para o mundo?
Nada, custa nada não... A poesia está
solta peles ruas, sobe pelos muros batidos de sol. A poesia está tão perto,é só
cutucar...
Verdade, “divera”. O céu aqui fica tão
baixo e é tanto azul que, se quiser, é só estender o braço e pegar um pedacinho
de nuvem para enfeitar minha sala. “Divera” o sol é tão baixinho que posso
amarrá-lo no meu telhado... Ah, e as estrelas até cochilam comigo... Se
quiser,é só pegar uma porção delas e fazer um colar para mim...
Música? Nossa... Juro, a brisa que
passeia pelas praças e ruas canta tão bonito que meu coração corre com ela pelos
telhados adormecidos... Minha alma se prende em seus cabelos e passeia por aí,
chega até a minha Estrela, corre pelos campos azuis de nossas fazendas e se
embriaga com o cheiro de terra fresca e de água da fonte...
À noite, o silêncio conversa com a paz
e eu descubro cada palavra mágica que embala meu sono e meus sonhos... A lua
faz morada bem em cima de minha janela.
Amanhece.
O
Morro da Capelinha pega fogo na luz do sol sertanejo que clareia minha(s)
Dores. Cada casa da cidade acorda, lava o rosto nas gotas de orvalho, desce o
morro e se escorre pela Avenida. Mil
olhos se debruçam nas janelas e espiam a manhã que nasce.
Pois então. Faço tão pouco pra matar a
saudade que teima em morar no coração de quem está longe, tão lon-on-on-ge
daqui... Não me custa ficar de vigília, com o coração bem aberto para
surpreender um momento azul, um bailado de flores, uma valsa da brisa e... vigiar
o pôr do sol que enfeita todo fim de
tarde da terra azul das Dores....
Vamos combinar então: você fica aí,
tadinho, sufocado pelo cimento dos prédios e do asfalto. Eu, abençoadamente,
vou ficar aqui. Vigiando a poesia. Vigiando a paz. Vigiando a singeleza das horas que se escorrem dos
relógios de nossas igrejas. Eu não faço nada mais do que contar tudo o quê
vejo. Não faço nada de mais...
O artista que fabrica tudo isso deve ser um anjo, quem sabe, uma fada? A Maria só põe
os babados....
Por que, se eu não repartir tanta
beleza com você, meu coração é capaz de
estourar de tanta poesia, de se derreter de paz, de ficar de mal comigo....
Além do mais, fiz um trato com a Santa Azul das Dores, aquela que tem uma
corroa enluaarada, tecida por estrelas miúdas, sabe qual? Pois então: ela
abençoa nosso povo e a Maria vigia tudo,
com olhar encantado e coração de poeta.
Assim, de mãos dadas com Nossa Senhora Azul das Dores, vou fabricando
momentos mágicos para você pensar que até continua morando na cidade azul.
Vigio todos os encantamentos para que
você não pense que esteve sonhando...
Para você pensar que nunca saiu da
terrinha... Que até deixou seu coração plantado em alguma esquina...
_ Quem sabe?
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