segunda-feira, 19 de maio de 2014


 

 

 

Estrela do meu céu

Maria

 

(Pela inauguração do asfalto, ligando Dores do Indaiá a Estrela do Indaiá...)

 

 

 

Dentro do meu coração, ela sempre foi uma ESTRELA DO CÉU. Mesmo empoeirada, sem praças ajardinadas; mesmo sem Praças de Esporte, sem telefone e sem CEMIG... quando eu estava lá, estava mesmo no céu...

Mas, não é que, enquanto eu estou longe, a danadinha criou corpo, cresceu e virou uma moça das mais bonitas?

Não fosse uma casa antiga aqui, outra ali, a minha Igrejinha de sempre, juro que pensei que eu tinha errado o caminho da Estrela!...     

A gente chegava, pingando poeira e a primeira casa da rua era a do Abílio, cheia de moças bonitas nas janelas.

Não há de ver que não achei a casa do Abílio? Antes dela, hoje, há tantas outras, tudo de cara nova, que até perdi o rumo. Só quando passei pelo grupo Francisco Campos, onde estudei e lecionei, é que me senti segura...

Quando passei em frente ao lugar onde era a nossa casa, nem precisei abaixar a cabeça para não sentir a sua falta: a névoa dos meus olhos já apagava quase todos os lugares queridos... Tenho que voltar lá, muitas vezes, até que meu coração sossegue e meus olhos fiquem enxutos para eu achar um pouco do que resta. Quem sabe, acharei por lá, uma casa, uma menina, um punhado de sonhos sonhados?

O asfalto novo, liso, brilhante, cortava os campos que conheço de cor. Quantos sonharam com ele! Quantos lutaram por ele!

Foi preciso que um amigo, colega de sala, crescesse e continuasse com esse sonho: Vitório da Silva Gomes – o Boreta. Pois é, sempre digo que as crianças merecem nosso amor e respeito, porque, dentro de cada uma, há um sonho a ser realizado, uma esperança, um futuro. Aí está: aquele menino louro, um tanto tímido na escola, acalentou o sonho de crescer e realizar muitos sonhos antigos, sonhados por outros que vieram antes dele.

Ah, o conjunto de casas populares que recebeu o nome de OTÁVIO SILVA - o Sô Tavinho da Dona Terezinha! Que saudades dele, tão miúdo, tão sensível, vendendo, na sua venda, mais calor humano que arroz e feijão; que saudades de quando ele ia para o ″Serviço de Alto-falante Irmãos Vasconcelos″ e, com voz trêmula e emocionada, declamava poesias enchendo a noite de ternura e beleza!

 Outra surpresa:

Não, João, juro que não acreditei quando vi você transformado em busto de bronze, naquela pose, em frente à casa que você tanto amou! Aposto que, aí em cima, você está pensando:

- Gente, que ideia desse povo de Estrela, fazer isso comigo? O que eu fiz, meu Deus? E sua gargalhada de menino grande acordará os anjos que dormem perto Dele...

JOÃO MENDES RODRIGUES, o João do Vovô Rodrigues, que era meu avô só de empréstimo, de coração; o João que levou a vida rindo de tudo, amando  tudo, com aquele coração maior que o de todo mundo!

Sabe, João, você conquistou o respeito dos estrelenses de um modo diferente, apenas pelo gosto de viver, de trabalhar, de ser simples e ser alegre.

Não fique brincando com coisa séria, João; você mereceu as flores, as palmas, o carinho. A simplicidade também faz as pessoas se tornarem grandes, sabia?

Que beleza do Estádio Municipal Joaquim Alves Belo - O Sô Quim da Da. Zuca, pai de meus alunos Carlinhos e Eleusa, muito sério, um homem de maneiras sábias, calado e discreto. Bato palmas para a homenagem, pois foi um bom prefeito, foi um estrelense de coração.

O Colégio que vi nascer, onde lecionei quando foi fundado, onde dancei com meus alunos, na noite de São João; o Colégio que ficava lá longe e que, agora, a cidade já abraçou! Quase não o reconheci, tão novo, tão bonito... Será que ele me reconheceu?..

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Se matei saudades? Matei umas e trouxe outras tantas, outras tantas!

Mas, agora, que o asfalto nos colocou mais perto da Estrela do Céu, quero estar sempre lá, rindo com meu povo, emocionando-me com suas esquinas e ruas, procurando os restinhos de minha infância, da minha Estrela do Indaiá.

E, quem sabe, lá, num cantinho qualquer, acharei aquela menina que fui eu...

Quem sabe, acharei uma casa grande, amarela...

Quem sabe, acharei um pai risonho, de olhos azuis?

Ou uma loja, a CASA CAETANO, cheia de sedas e chitas, de vidrinhos de água- de- cheiro, de anéis que se chamavam ″Memórias″?

Ah, meu Deus, se pudesse juntar tudo o que vi e trazer para minha casa...

Eu ia rezar numa Igreja pequena, ia ser anjo de novo, cantar no coro, em latim; eu ia pro vaivém, de roupa nova, ia brincar debaixo da gameleira e ver o sol dormir lá no ″Curral do Conselho″...

Eu ia, eu ia... Eu ia ser feliz! Precisa mais?

Ah, Estrela do Indaiá, Estrela do Meu Céu!

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