Poeminha
Há muito tempo, escrevi, num instante
de encantamento com uma noite dorense:
“Quando eu for
morar nas nuvens
quero ter um sofá velho
e macio para
fazer o céu dormir....
E, quem sabe,
com a luz da lua
eu pegarei no sono
e dormirei
coberta de estrelas...”
Pois, segundo as descobertas dos
físicos, esse sonho bem que poderá acontecer!
Descobriram que a lua vai ser o jardim
dos astronautas.
E eu que já apregoei aos quatro ventos meu próximo endereço,
de onde poderei espiar a terra azul: vou morar na lua! Lá é fresquinho, deve
ter água e, agora, com um jardim, o que mais posso querer?
Já ando observando as flores ao meu
redor; vou levar mudas de cada uma delas. Vou percorrer os becos e ruelas da
minha Estrela do Indaiá, vou entrar em cada casa, colher sementes nos quintais
de minha infância. Aí, levanto voo com as mãos cheias para fabricar um pedaço
da terra lá na lua...
Pensando bem, já sei como vai ser
minha mudança para a lua: levarei poucos móveis – um sofá velho me basta. Ah,
os livros de meu pai, os livros que recolhi ao longo dos anos, sem esquecer os
preferidos de cada um: Érico Veríssimo, Mário Quintana, Florbela Spanca,
Fernando Sabino, José Lins do Rego para eu passar os primeiros tempos... Ah,
Fernando Pessoa para o BEM... Nossa, será que lá na lua tem dia e noite? Será
que tem luz? Xii... esqueci das mil estrelas que vão clarear meu sofá antigo,
como sou boboca...
Convém levar música? Acho que convém –
mineiro é prevenido, vai que lá só tenha música de anjo – tudo bem, mas se der
pra variar, melhor. Besteira, o Tim Maia está por lá, o Cazuza, o Raul Seixas,
o Adoniram, a Elis Regina, o Elvis Presley, vai ser show ao vivo o tempo todo.
Claro, o BEM sabe desse plano meu e
deve estar pensando que eu não preciso levar nada, que ele já preparou tudo...
Meu coração entende, mas, do jardim,
prefiro cuidar. Pego o meu quintal antigo, o jardim da mamãe, as violetas
singelas da vovó Cristina, as macelas perfumadas lá da vó Mariquinha. Será que
lá na lua cabem todos os quintais que meus filhos já amaram?! Ah, porque pretendo
levar todos eles, até que a gente se acostume na nova morada. Inclusive o
quintalão de hoje, reino de meus netos, com balanço, galos, galinhas, piu-pius, patos e marrecos, angolas,
periquitos e um sol deste tamanho...
Aposto que o Bem está falando: “Não
tem jeito pra Branca, o coração dela não se esquece de nenhuma miudeza...″
E, nas horinhas de folga, vou tecer
uns casaquinhos de tricô para os anjinhos – na lua deve fazer um frio daqueles!
- Onde vou arranjar linha e lã?
Tecerei os casaquinhos com os fios
prateados da luz do luar, com pequenos raios de sol que enfeitam o entardecer
da terra... Pedirei a cada estrela cadente – que passar perto do meu jardim –
as sobras dos arabescos iluminados! Que elas
espalham pelo infinito e, com eles, bordarei pequenos pontos de estrelas nos
casaquinhos dos anjos...
Pois é. Vou escrever à NASA – ou será
melhor um E-mail? – e vou marcar minha mudança para a lua.
Prepare o próximo foguete! Lá vai a
Maria, com tantas flores que, até daqui
da terra, o povo vai enxergar estrelas de miosótis, estrelas de rosas, enormes
girassóis de sol, manacás de estrelinhas... Cada flor brilhará como uma pequena
estrela.
O povo vai olhar para o céu e vai
ficar admirado:
- Espia, gente! A lua tá cheinha de
flores, até parece um jardim... Um jardim de estrelas...
Aí, alguém vai se lembrar de um
POEMINHA que, um dia, a Maria escreveu:
‘Quando eu for
morar nas nuvens
quero ter um sofá velho
e macio para
fazer o céu dormir
E, quem sabe,
com a luz da lua
eu pegarei no sono
e dormirei
coberta de estrelas...
Aí, todos vão adivinhar que eu já me
mudei para a lua...
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