terça-feira, 6 de maio de 2014


 
Nem olhei qual é a lua de hoje... Mas, lembrei-me desta crônica - LUA CHEIA -
Por causa de uma fotografia que vi na revista.
Juro, a lua cheia de Dores do Indaiá, naquela noite, era muito, muito mais bonita do que a da foto da revista...
Vejam se não tenho razão..... 
 
 
 
 
 
LUA CHEIA
Maria

 

Até mesmo por aqui, a televisão prende as famílias dentro de casa enquanto, cá fora, as belezas antigas são esquecidas.

Eu tenho pena de ver o céu estrelado lá fora e o povo trancado em casa, calado, se envenenando com as notícias – há acidentes de todos os horrores. Piores são os “acidentes morais” que, devagarinho, feito cupim, vão roendo e esfarelando tudo que encontram pela frente. Roer, moer, roer, moer, deixar só a casca...

Eu ainda sei encontrar a Estrela Dalva no céu. Ainda encontro as Três Marias cochichando juntinhas, e o Cruzeiro do Sul ainda está lá. Graças a Deus, o céu não muda! Eu sei, quem muda somos nós.

Por tudo isso, teimo em mostrar o céu para meus netos. Tento enternecê-los com as estrelas, com a lua, com o poente cor de melancia, no dizer de uma neta. Noto-lhes uma ternura mais apressada do que a minha. Afinal, eles têm a vida toda para descobrir estrelas... Ou, quem sabe, eles já acham o céu em outras “paragens” que não são as minhas: no computador, na Internet, na televisão. E eu, teimando com meu céu antigo, com minha ternura velha...

E foi aí que, numa noite quente, de janelas escancaradas, dei de cara com uma lua cheia em meu quintal. O pé de sabãozinho “pegava fogo de luar”! Não resisti. Juntei as netas que estavam no computador, rompi casa adentro e fui varar lá na porta da cozinha.

- Olha, gente, que ma-ra-vi-lha!  Olha que tamanho de lua!

Não satisfeita, telefonei para outros filhos:

- Nossa, vocês estão perdendo! A lua cheia tá começando a sair, desse tamanho!

Daí a pouco, o telefone:

- Onde está a lua cheia, vó?

- Uai, tá lá pros lados da Cerâmica!

- Daqui nós não estamos vendo!

As meninas começaram a se impacientar, a lua não subia! Eu, firme no meu posto de “entendida de lua”. Então, como elas quisessem voltar para o computador, ainda arrisquei:

- Sobe aqui, Nanda! Sobe aqui, Lilise!

A caçulinha olhava para o céu, não tinha argumentos para a sabedoria da avó. A outra, mais esperta, fugiu de minha insistência e mostrou:

- Pra que subir aí, vó? Eu já vi a lua, ali ela!

A minha lua cheia, descobri depois, eram luzes novas, lá no “aeroporto”. A lua verdadeira era meia fatia de lua minguante... Uma luinha roscofe, até!

O telefone ria que ria da “vovó aluada”.

Mas valeu! Esparramei, sem querer, um bando de netos e netas pelas pracinhas de Dores, numa noite que merecia e pedia serenatas...

 

 

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