Eu nasci em Dores do Indaiá, em outubro de 1937, numa casa pequena, já
demolida, ao lado do então Seminário São Rafael, na Rua Dr. Zacarias. Hoje em
dia, ainda existem vestígios do que fora
a casa – suas paredes antigas estão lá,
no pátio interno do Seminário, e fazem
parte da construção da cozinha do prédio... (Não é por acaso que gosto tanto de
cozinha, de igreja e de sinos e de
anjos...)
Nesta casa, antes do meu nascimento, funcionou uma republica de rapazes: João Neves, Zé
Pretinho, Antônio Alves e outros.
Meus pais se mudaram para Estrela do
Indaiá , quando eu era bem pequena: foi lá que completei dois anos
de idade.
Em Estrela do Indaiá, morei por vinte e
dois anos. Mas cresci entre minhas duas
cidades – Estrela e Dores do Indaiá. (Também, não é por acaso que meu coração
nunca soube ao certo, qual é a sua cidade : falo que sou de ESTRELADORES...)
Desde
pequena, eu escrevia sobre o que me
rodeava: pessoas, bichos, livros e brinquedos, sobre Deus e anjos, sobre bruxos
e fadas. Naquele tempo, nossa distração não ia além disso, alguns jornais e
revistas, pai, mãe, quintais, mês de maio... No
Grupo Primário, em Estrela do Indaiá, onde cresci, as professoras sempre falavam que eu escrevia
bonitinho demais! Então, eu tomei
gosto pela escrita e caprichava mais, mais e mais...
Minha
primeira crônica, publicada no O LIBERAL de 7 de abril de 1973, veio em
decorrência de um estímulo, por parte de D. Tatão Caetano Camargos, a famosa
professora de Datilografia, com quem fiz o curso completo.Então, eu já era
casada com o BEM (Ricardo) e já tinha meus seis filhos, uma escadinha de um a
oito anos...
No
final do Curso, eram pedidos dois trabalhos difíceis: uma redação oficial e
outra à escolha do aluno.
Eu
escrevi uma carta a meus seis filhos,
todos pequenos, falando da alegria de tê-los e das características de cada um, o quê me fazia certa de que, eu e
o BEM – seus pais – seríamos eternizados : um deles, tinha os dentinhos
separados, outra tinha covinhas no rosto, um gostava de criar passarinhos, duas
das meninas tinham os cabelos cacheados e pretos e só uma os tinha claros e lisos como os
meus. Eles carregavam nosso jeito enosso coração que, por certo, iriam
continuar...
D.
Tatão se entusiasmou com minha carta/ exercício e quase exigiu que eu a
publicasse no jornal O LIBERAL, à época, dirigido por Antônio Lopes Cançado e
Bento Galvani.Eles acolheram meu trabalho, os leitroes apreciaram a minha
crônica e...
Daí
pra cá, não parei mais de colaborar com os jornais da terrinha, com os de Estrela do Indaiá, de Luz, de Abaeté e de
Belo Horizonte, onde sou a mais antiga articulista do jornal O LUTADOR ,
colaborando, semanalmete, desde 17 de fevereiro de 1980.
Meu
pseudônimo foi escolhido em homenagem a minha mãe, que se chamava MARIA JOSÉ .
Como cronista, sou MARIA.
MINHA
PRIMEIRA CRÔNICA:
MEUS FILHOS E EDEUS.
Maria
E
foi um berreiro daqueles!
Abaixei-me
para ver o que acontecia em baixo da mesa onde eu passava roupa: era o lugar
predileto para para o brinquedo dos meus
filhos: além do mais, dali eu podia controlar melhor a minha turminha.
O
motivo do berreiro?
Besouros!
Eles
pegaram um punhado de besouros e, cada qual arranjara uma casinha ideal para os
seus ” boizinhos”...
Os
boizinhos do menor aproveitaram um
cochilo dos carreiros e saíram da
casinha, causando aquele choro todo.
_
Chora não, sô! Eu te dou o meu boizinho cinzento!
E
o irmão tentava consolar o menino.
_
Eu não quero o seu, não! O meu é que tem
FRICHE...
(O
menor, trocava as sílabas das palavras- estava com quatro anos ainda...)
_
Não é FRICHE... É CHI-FRE... CHI –FRE.. (o mais velho tirava casquinha do menor,
corrigindo-o)
_
Pois é, custei a arranjar um de FRICHE...
Aí
então, Deus foi lembrado:
_Reza,
bobo... Num instantinho, Deus acha o seu” bizorro”
_
Acha nada! Eu tô aqui pertinho e não acho!
_Mas...
Deus tá no céu e de lá Ele vê tudo!
_Vê
não! Vê nã -ã- ã –ão!
Fiquei
atenta. Os dois ficaram caladinhos, caladinhos...(Eu penso – esperavam um sinal
de Deus...)
Aí,
o choro recomeçou. E a busca também: procuraram no gruada-roupas, debaixo das
camas e até dentro dos meus chinelos, abandonados pelo calor...
E,
como o Eduardo não se calava, o mais velho, Ricardo Antônio, resolveu tirar o
besouro de dentro do bolso, onde o havia escondido, tentando enganar o
irmãozinho...
Não
querendo dar o braço a torcer, meio envergonhado, falou:
_Aqui!
Achei! Achei ele procê! Não falei que Deus acha tudo!
E
o pequeno, desconfiado da manobra do irmão: Eu
acredito que Deus acha “Bizorro “perdido”, mas...só se Ele fizer uma casinha de
joão-de-barro pra mim, agora. A-go-ra!
E,
com o dedinho gorducho marcava um lugar no chão esperando a casinha do joão-de-barro
aparecer...
Entrei
em cena e dei uma colherzinha de chá pra Deus...
Porque,
se a conversa continuasse, eu acho que a casinha de joão-de-barro teria de
aparecer, na hora.
_
Ah, isso teria....
.........................................................................................
(Essa crônica é em
homenagem à memória de D. Maria da
Conceição Caetano Camargos – D. Tatão, ao Bento Galvani e Antônio Lopes
Cançado, proprietários da Gráfica e Jornal O LIBERAL)
Dores do Indaiá, 15 de
janeiro de 2014.
Como tudo o que você escreve, adorei a crônica. Posso até ouvir as crianças brincando. Aliás, toda a cena formou-se na minha imaginação e pôs-me um sorriso nos lábios. Até a sensação de calor, a alegria de estar perto dos filhos, a eternização desse momento. Muito tocante. Um beijo.
ResponderExcluirAmo suas crônicas, D. Branca. Sou sua fã de carteirinha!
ResponderExcluirDª Branca é muito gostoso ler suas crônicas, a gente desliga do nosso mundinho e viaaaaaaaaaja ....
ResponderExcluirGostei muito da crônica... talvez ainda mais por ter sido dedicada à minha tia-avó Maria da Conceição Caetano Camargos.
ResponderExcluirPor favor, entre em contato. Estou juntando histórias e fotos relacionadas à família e a Dores do Indaiá e ficaria muito grato se pudéssemos trocar informações.
João Andrade - macairodus@gmail.com