RÁDIO ATIVA
MARIA
Estou
de férias. Como sempre, é a mesma coisa: quando tenho tempo, não tenho tempo
para nada...
Ajuntei
uma sorte de roupas _ ainda se fala assim? _ para consertar: os netos crescem e
as barras das roupas diminuem.
Separei
linhas e estou tecendo uma blusa colorida, de quadrinhos antigos, aprendidos
com minha avó Cristina.
Comecei
um bolero de tricô, mais fácil para fazer, vendo televisão – sou
noveleira-mestra!
A
tinta do cabelo me espia e eu nem ligo pra ela... Tenho a maior preguiça de
pintar cabelo – para mim, um dia perdido. E, quando invento _ hoje estou
mineiramente inspirada _ chega visita e eu não posso sair lá fora.. Parece
sonho _ é, hoje não tem jeito – estou indo no fundo do baú ...
Eu,
parecendo uma bruxa e a visita toda fresca, de sapato de salto, esperando a
dona da casa, às vezes, a escritora... Fica aquele constrangimento, aquela
desconfiança no ar, ninguém acreditando na sessão de beleza... Sabe como é: cá
pros nossos lados, não há o costume de se avisar sobre a visita e porta trancada não combina
muito com a gente.
_
Ir ao Salão? Piorou! Tenho mais preguiça
ainda: corto volta de Salão.... por isso mesmo, ando nesta beleza toda!
Mas
eis que tive tempo de ouvir a Rádio Ativa de Dores do Indaiá. Entre músicas e
comerciais, o Carlinhos da Rádio – ou seria o Fernando Zica? – lançou ao ar um
simpático apelo: D. Fulana está
inconsolável e pede a ajuda dos prezados ouvintes: Desapareceu de sua casa um
cravo de estimação que atende pelo nome de Louro. Trata-se de relíquia de
família. O Louro era de um sobrinho ... O moço
faleceu e ela adotou o cravo..
Tive
pena da dona do Louro, pena mesmo
Eu
também tinha uma crava, lindinha, a Tataca. Já contei aqui que ela roeu o fio
de telefone, uma ligação antiga, lá no barracão e que ficamos sem poder
conversar por dias e dias, lembra-se?
Pois,
olha o quê aconteceu com a Tataca... Troquei a gaiola dela de lugar, na maior
inocência. A danadinha descobriu outro fio....
Na
manhã seguinte, a Vani gritou:
_
D. Branca, nossa! A Tataca morreu!
Não
acreditei! A Tataca estava esturricadinha, mortinha, agarradinha aos arames da
gaiola. Ela descobriu outro fio... da linha elétrica - que eu nem havia
atinado... Chorar foi pouco...
O
Dirceu, meu genro,quis acabar logo com aquela lenga-lenga: fez uma covinha rasa
e enterrou a cravinha Tataca.
Daí,
veio uma ventania, varrendo o quintal. Cá de cima da escada, fiquei olhando,
olhando sem ver...
Então,
uma folhinha me chamou a atenção- Ah, deve ser uma mudinha que o Eduardo
plantou... Vou protegê-la do vento... (O meu filho gosta de semear plantas antigas e diferentes
e eu o ajudo).
Fui
ver. Não era folha. Era o rabinho da Tataca que ficou de fora....
Chorei
de novo, chorei. E não havia Rádio Ativa que me acudisse...
Dores do Indaiá, 12 de abril de 2002.
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