PÁGINA MARCADA

Maria

 

Vou ser vovó de novo!

O telefone canta:

- Mãe! A Elise está grávida!

Era meu filho, lá de Belo Horizonte, dando a boa nova.

- Se for homem, vai ser Ricardo...

A vovó quer saber:

- E se for uma menininha?

- Ah! Vai ser Clara!

Passei o dia com o coração cantando...

- Clara! Clara!

Esse coração meu não se cansa de fabricar milagres para a vovó...

 

De repente, bem de repentinho... Eu tinha 15 anos e meu coração era um sininho no peito.

O portãozinho da casa estava enfeitado de lua. Eu ia ver, de perto, para namorar, aquele moço que meu coração havia escolhido.

Meu olhar se alongava pela avenida esperando (entre)ver o príncipe encantado de minha história.

Eu ensaiava baixinho as respostas que eu daria ao meu príncipe:

Boa/noite/eu/me/chamo/Branca/estou/na/sétima/série/a/lua/está/muito/bonita/blábláblá...

Mas foi muito mais bonito aquele instante: um livro de poesias!

Pronto. O coração da MARIA não esperava tanto...

- Veja a página marcada... – Leia para eu ouvir...

Ouvi a voz enamorada da mocinha que era eu:

 

Clara

              Casimiro de Abreu

 

             Não sabes, Clara, que pena

Eu teria se – morena

Tu fosses em vez de clara!

Talvez... Quem sabe?... não digo...

Mas refletindo comigo

Talvez nem tanto te amara!

 

A tua cor é mimosa,

Brilha mais da face a rosa,

Tem mais graça a boca breve:

O teu sorriso é delírio,

És clara da cor do lírio

És clara da cor da neve!

 

            A poesia foi relida pelo moço bonito. Em vez de CLARA, ele falava meu nome – BRANCA...

Hoje, o portãozinho ainda está lá. A casa da tia Helena ainda está lá e a lua ainda enfeita o céu dos namorados...

A mocinha casou com o moço da poesia.

A mocinha já é vovó de um bando de netos. O moço da poesia mudou para a lua e, toda noite, acende a luz para enfeitar o céu de sua namorada...

Agora, vou ganhar outro neto.

Meu coração já cochichou pro BEM:

“Se for menino, será RICARDO, como você, Se for menina, será CLARA.”

A lua dança no céu e eu sei que o BEM me ouviu...