BELEZA
Maria.
Hoje
nem é domingo, nem é 1º de abril...
Mas...O
BELEZA passou, do mesmo jeito, espalhando seu grito alegre pela cidade. Não
resisti...
Abri a
janela, comprei coouve, alface e quiabo... Tudo igual...
A
crônica é para vocês morrerem de inveja
de mim, que fiquei aqui, catando retalhos de ternuras...
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Uma voz
conhecida acorda a rua:
-
Beleza! Be-le-za-a-a! Couve, alface, quiabo, bele-e-e-za-a-a!
O homem
para, descansa o corpo na árvore do passeio e espera calmamente. As casas
despejam um bando de mulheres-maritacas na manhã azul.
Conversam,
trocam receitas do domingo, contam casos das visitas, as roupas que usam e seus
modismos.
O homem
da BELEZA vigia seu carrinho só com um olho. O outro cisma, entra na conversa,
concorda e discorda das notícias miúdas que ouve.
Só na
hora do acerto, o outro olho se abre. Preguiçosamente o BELEZA faz as contas,
acerta o troco, dá descontos ínfimos e as maritacas sentem-se recompensadas.
- Vou
fazer quiabo com angu e carne moída...
Uma
delas, mais jovem, quer saber como se faz quiabo sem baba.
Há um
ligeiro alvoroço, todas falam ao mesmo tempo. A pobre moça fica aturdida, pega
fiapos de mil dicas e olha desolada para os quiabos que esperam em suas mãos
rosadas.
- Tem
de fritar!
- Tem
de tirar as sementes!
- Duas
gotas de limão!
- Ponho
é vinagre!
- Uma
maritaca mais experiente fala – em tom professoral – e o bando se cala:
- Pois
eu vou pingando água sem tampar a panela...
As casas engolem as maritacas e cada uma
vai pensativa sobre os quiabos do almoço.
Só
então o BELEZA dá por mim na janela.
Entusiasmado
com a única testemunha do pequeno e animado show das maritacas, olha para mim,
faz uma ligeira reverência, toca a aba do chapéu de palha, enche os pulmões e
solta seu alegre pregão:
-
BELE-E-E-ZA-A-A-A-A!
Fico
benta por aquele momento de paz e, na outra esquina, vejo outro bando de
maritacas cercando o carrinho de verduras.
Só aí
sondo o céu.
Lindamente
azul! Céu lavado de fresco, sem uma mancha.
Se eu
fosse menina, veria um avião riscando esse azul, soltando rabiscos de pura
magia no céu de Estrela, E eu falaria:
- É um
avião da Panair!
Sorrio
para a doce lembrança e a janela aberta joga um pouco de céu dentro da minha
sala e do meu coração.
Certamente
o abril vai enfeitar a terra com as manhãs mais bonitas do ano.
E,
certamente, sempre haverá alguém gritando “BELEZA” nas ruas.
Certamente
sempre haverá um coração debruçado na janela para recolher aquele instante
poético.
(Para o
meu caçula, Paulo Emílio, que, há 40 anos, quase nasceu em uma manhã assim,de
1º de abril. Mas preferiu adiantar o momento de ternura, nascendo em 31 de
março.)
Dores do Indaiá, 1º de abril
de 2008
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