sexta-feira, 17 de janeiro de 2014


Água Doce. 

 

            É mesmo!

            Já falaram pra mim que eu só escrevo miudezas, coisas assim-assim, que minhas crônicas são como chazinho de bebê, aguinha doce...

            Então, de vez em quando, tento mudar...

            “Onde já se viu ficar omissa (ai, que palavra mais complicada!) com tanta violência, fome, bombas, analfabetismo?”

            É mesmo!

            Bem que perco o sono com tanta tristeza.

            Bem que perco o sono!

            Mas... como escrever feito vó, feito economista, se o céu de Dores do Indaiá está jogando tanto azul e tanto ouro no meu olhar? Como ficar sorumbática, se o sol caipira do interior não me dá sossego e fica me chamando com voz quente, com a cara inteira na minha janela?

            Se olho pras casas com a pintura descascada, pulo o olhar lá pra dentro e penso nos sonhos que elas abrigam...

            Claro! Eu também sinto saudades das pedras antigas da minha Avenida. Mas, meu olhar se encanta com a alegria dos jovens que pisam o asfalto novo...

            Pois então. Nasci assim mesmo, alegrinha, água doce. Fui benta por uma fada sonsinha que não deixa meu coração virar pedra.

            Afinal, alguém precisa estar alerta, descobrir os pássaros no meio do mato, descobrir o vento, descobrir a esperança que mora nas escolas, descobrir o azul, a poesia...

            Pois então. Nasci assim mesmo... Uma água doce...

            Choro com a falta de paz. Choro pelas crianças famintas, pelos jovens sem rumo certo.

            Mas, choro sozinha, à noite, sem ver o céu.

            Porque, se deixar uma fresta na janela...

            Ah, o céu de Dores do Indaiá me chama e eu embarco no seu brilho. A culpa é dele...

 
 

Maria

 
Dores do Indaiá, março de 1994

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