quarta-feira, 26 de março de 2014


Entrevistas com Ailma Lopes Castro, aluna da Escola Normal e, posteriormente, professora nas Classes Anexas. Hoje, ela reside em Brasília, DF.
Ailma, pessoa esfuziante, deixou saudades na Escola e... na cidade.(Seu esposo - já falecido - era José Anacleto de Castro, funcionário do BB e membro atuante da Sociedade Dorense.)


Brasília, 07 de dezembro de 2010.

   Branca, querida

  Alegrou-me muito a sua delicada carta.
  Gostei da ideia de vocês, no sentido de traçar, para as gerações atuais e futuras, o perfil da Escola Normal.
  Você mexeu num vespeiro de lembranças, de saudades dos bons tempos vividos na Escola. Como aluna e como “professorinha” do primário. Vinte anos de sonhos, de projetos e encantamento. Esta idade, seja talvez a mais encantadora do ser humano. Ainda mais quando vivida na década de 50, a década dos “anos dourados”. Quanta coisa boa aconteceu nesta década.
  Tenho a impressão que você vai ficar “entojada” com a leitura dos meus questionários. Escrevi-os sob uma grande emoção e me prolonguei muito (coisas tão engraçadas para mim, serão tão insignificantes para quem não as viveu). Paciência!...
  Li o seu livro “Água Doce” e gostei muito. Estou com o último e pretendo lê-lo assim que terminar um já iniciado.
  Gosto bastante de ler, não só livro como jornais. Aos domingos debruço-me sobre a “Folha de São Paulo” e leio vorazmente quase todas as matérias. Faz-me bem.
  Gostaria de ter o dom de escrever alguma coisa mais consistente e quem sabe um livro? Falta-me, no entanto, disciplina, paciência e competência.
  Entre luzes e sombras, investidas e retrocessos, vontade e displicência, alegrias e sofrimentos, espero um Brasil mais justo e mais ameno para todos nós.
  Um Natal alegre para você e família e um Ano de 2011 com esperança e sucesso na sua jornada.
  Carinhoso abraço

    Ailma

Dores do Indaiá, 28 de junho de 2010. 
 Prezado(a) Professor(a) e Prezado(a) Aluno(a) da EE. “Francisco Campos”,
 Estou – juntamente com uma equipe de profissionais – realizando uma pesquisa que nos possibilite levantar dados para a realização de um trabalho cultural sobre o ENSINO em nossa região.
 Solicito sua participação, respondendo as perguntas apresentadas – acrescentando outras informações interessantes – sobre a Escola Estadual “Francisco Campos”, de Dores do Indaiá(MG), referência na área educacional da região.
 Agradeço, em nome da equipe, na certeza de que faremos um bom trabalho, se pudermos contar com sua anuência ao nosso projeto.
 Atenciosamente,
 Maria das Dores Caetano Guimarães (Branca)
Nome do(a) entrevistado(a): Ailma Lopes Castro
Data: Brasília, 07 de dezembro de 2010.
1 – Em que período você estudou na Escola Normal?
      De 1948 a 1954 – do 1.º Ano Ginasial ao 3.º Ano do Curso de Formação.
2 – Lembra-se dos nomes dos Professores?    
      Sim:
      Português – D. Aparecida França e Irani Moura, num pequeno período.
      Matemática – Adélia de Oliveira
      Geografia – Professor Waldemar Barbosa
      História – Rosa Moura
      Ciências – Cenira Melo
      Música – Carmen Fiúza
      Desenho e Trabalhos Manuais – Helena Guimarães
      Francês – Professor Carvalho
      Latim – Professor Leonardo
      Educação Física – Jalma Costa 
      Geni Soares deu aula de Francês num período.
      Religião – Irmã Mota
      Diretora – D. Ester Alves
      Curso de Formação – Metodologia e Didática – D. Heleninha
      Psicologia e Puericultura – Sílvia Moura
      Português – Dina Pinheiro e Prof. Rubens Fiúza
      Matemática – João Neves
      Desenho e Trabalhos Manuais – D. Hilda Bernardes
      Anatomia e Fisiologia Humanas – Dr. Di
      Educação Física – Jalma Costa
       - Quando foi introduzido o ensino de Inglês na 4ª. Série Ginasial, a Prof.        Solange Costa Rezende deu aula da matéria num curto período.

3 – Como era a disciplina?
      Sem nenhum problema, afora nossas brincadeiras para afrontar a Inspetora D. Cornélia Véu, que era muito rígida. Chamava-me de “Índia” e frequentemente alertava a minha mãe sobre o meu comportamento (descer a escada correndo, rir fora de hora, atraso na chegada à fila etc etc).

4 – Você era interna/externa?
      Era externa.
5 – Se foi interna, como era a vida no Internato São José?
6 – Quais eram as freiras de seu tempo?
      Lembro-me da Irmã Maria José e a Irmã Mota. A primeira, professora de piano.
7 – Lembra-se, ou teve notícias do terrível incêndio do Internato?
     Lembro-me muito do incêndio e chocou-me bastante o acontecido. Tinha uma ligação afetiva com o lugar.
8 – Havia alunos de todas as classes sociais na Escola? E de raças diferentes?
      Sim. Peças também. Poucas, mas tinha.
9 – Como eram admitidos os alunos na Escola Normal?
      Pelo Curso de Admissão (pequeno Vestibular).
10 – Conte detalhes de sua vida escolar: colegas, uniformes, aulas de Educação Física, teatros.
       No Curso Ginasial as turmas eram numerosas. Ilza, Dayse, Maria Helena Oliveira, Maria Zica, Pedrolina Azevedo (Pelita), Marlene Ribeiro, Terezinha Ione (Teré), Jandira Morais, Maria Cordeiro e Jandira Assunção. Estas foram as colegas do Curso de Formação.
       As colegas citadas, menos a Jandira Assunção, fizeram o ginasial comigo. Lembro-me da fisionomia de muitas, mas o nome, só de algumas. Vamos lá: Terezinha Ferreira (Belo Horizonte) – interna, 
Elvira (Luz) – interna, Genuína (Morada Nova) – interna, 
Rosinha de Oliveira (Luz) – interna, 
Maria Helena (Abaeté) – morava com uma tia na Rua Benjamin Guimarães, Cotinha. Seu nome era Maria Ambrósia e ela execrava este nome. Ficava chateadíssima porque D. Rosa Moura, na chamada só dizia: -Maria Ambrósia...Soube que queria mudar o nome, tal sua contrariedade. 
Neusa, filha do Antônio Lalau.
      O uniforme, meio desconfortável, era lindo – saia azul marinho, pregueada, blusa branca de mangas compridas, punhos azul marinho, sobrepostos com cadarço branco. Gola tipo marinheiro, com cadarços brancos sobre tecido azul marinho. Na gravata colocava-se uma fitinha verde indicando o curso. Uma para o 1º. Ano, duas para o 2º. Ano etc etc. Meias pretas ¾ , sapato preto fechado. Nos dias de gala e dias especiais usávamos boina azul marinho. O conjunto encantava a todos. 
       A Escola Normal, sem nenhuma modéstia, abafava. Era uma moçada saudável, de cintura fina e graciosas (vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco no rostinho encantador). Belos tempos!
      E as festas no Salão Nobre? Que charme! O salão tinha cheiro de nobreza. Lustroso, cortinas pesadas e um palco onde apresentavam-se as alunas nas festas. Ilza Silva era a declamadora de primeira linha. Terezinha Ferreira cantava feito um rouxinol. Maria Vilma de Bom Despacho era uma bela morena que cantava e atiçava os rapazes com seu charme (não foi minha colega. Era um ano na frente).
       Sei que estas reuniões eram um acontecimento!...
       Mais gente de fora, do que dentro do salão. Ali rolava muita “paquera”. Como rolava!...
       A Escola Normal “Francisco Campos” era uma referência na região. Alunos de Bom Despacho, Abaeté, Morada Nova, Luz, Estrela, Bambuí, Melo Viana, Pitangui, procuravam-na, certos de encontrar ali um ensino diferenciado.
       Para terminar: a festa de formatura das alunas do Curso de Formação era um evento badaladíssimo! O Cine Indaiá ficava lotado e as formandas esmeravam-se com as roupas de baile. Parecíamos princesas de um conto de fadas. Orgulhosas, vaidosas, felizes pelo coroamento de um esforço de sete anos. Afinal, professora era uma posição de destaque, apesar do salário “pequenino”. Éramos o protótipo da felicidade no evento de colação de grau e do Baile. A valsa era escolhida a dedo por todas. A nossa foi “Conto dos Bosques de Viena”, salvo engano. Como escreveu o meu pai:

  “Saudade, coisa esquisita
  Ninguém sabe o que ela é,
  Se vem morar, se é visita,
  Se voa ou anda à pé,
  Se caminha feito vento
  Sem deixar o rosto no ar.
  Saudade, doce tormento
  Difícil de explicar.
   “Pirilampo”
    Tenho saudades, muitas saudades do meu tempo de estudante!
    “A missão de professora era como um sacerdócio. Era coisa muito séria...”

11 – A Escola representava que papel na Sociedade?
12 – Um diploma de Normalista tinha significado diferente do de hoje? Por quê?
13 – Fale sobre recreios, aulas diferentes, alunas-mestras, auditórios, teatrinhos, merendas, Horas cívicas, aulas na Biblioteca, desfiles nas comemorações, enfim, relate fatos – de qualquer natureza – que você presenciou, viveu ou observou. Esses fatos podem fazer parte de uma história diferenciada sobre o ensino de uma época.

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