Dores do Indaiá, 28 de junho de 2010.
Prezado(a) Professor(a) e Prezado(a) Aluno(a) da EE. “Francisco Campos”,
Estou – juntamente com uma equipe de profissionais – realizando uma pesquisa que nos possibilite levantar dados para a realização de um trabalho cultural sobre o ENSINO em nossa região.
Solicito sua participação, respondendo as perguntas apresentadas – acrescentando outras informações interessantes – sobre a Escola Estadual “Francisco Campos”, de Dores do Indaiá(MG), referência na área educacional da região.
Agradeço, em nome da equipe, na certeza de que faremos um bom trabalho, se pudermos contar com sua anuência ao nosso projeto.
Atenciosamente,
Maria das Dores Caetano Guimarães (Branca)
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ENTREVISTA (Professores/Professoras)
Nome do(a) entrevistado(a): AILMA LOPES CASTRO
Data: Brasília, 07 de dezembro de 2010.
1 – Qual a matéria que você lecionava? Em que ano? Curso?
Alfabetização – 1º. Ano e posteriormente 2º. Ano (primário).
2 – O Professor era bem remunerado em sua época?
Não. Ganhávamos muito pouco e recebíamos com atrasos bem grandes. Tive uma colega, arrimo de família, que para manter seus compromissos recorria a empréstimos com agiotas, mas mesmo assim cumpríamos nossas obrigações com empenho e no meu caso, particularmente, com muita alegria e até “vaidade”.
3 – Como o Professor era admitido à docência?
No meu caso, terminando o Curso de Formação, fui convidada pela minha professora, a querida D. Heleninha, para lecionar no 1º. Ano, alfabetizando uma turminha de crianças vivas e inteligentes. Não me esqueço da “Lili”: “- Eu me chamo Lili. Vocês gostam de doce? Eu gosto tanto de doce!”. Era meio “pedante” quando apresentava o cartaz, pronunciando pausadamente e frisando bem “de” e não “di”. Chiquérrimo! E as “Alunas Mestras” assistindo às aulas para, posteriormente, fazerem a crítica construtiva das mesmas. Bons tempos!...
4 – Quem era o(a) Diretor(a)?
O Professor Leonardo era o diretor da Escola Normal e D. Heleninha do Curso Primário, se não estou enganada. Afinal, são passados 55 anos. Comecei a lecionar em 1955.
5 – Quem era os(as) Inspetoras de Ensino?
Na época a que estou me referindo, era a Nega Costa.
6 – Havia Cursos para os Professores se reciclarem? Onde? Quem os custeava?
Nesta época, não. D. Heleninha, sempre muito atenta, se reunia conosco e era “uma aula”, ou melhor, um curso valioso. Éramos interessadas e trocávamos ideias: Letícia Machado, Miriam Machado, D. Castorina, Olga Nogueira, Terezinha Guimarães, Branca. Afinal, havia muito interesse de nossa parte que os alunos se saíssem bem e para isto não medíamos esforços.
7 – Como a disciplina era mantida?
Fizemos um curso, em que a tônica era o respeito às crianças e a dedicação; afinal aprendemos a “educar” no sentido mais puro da palavra, com muito amor. A disciplina era sem problemas.
8 – Quais as matérias formavam o Currículo?
Língua Portuguesa, Matemática, Estudos Sociais, Literatura (como era bom ouvir os alunos relatarem, com suas palavras, o resumo dos livrinhos de
literatura). E havia também a “Hora de Histórias”. Uma vez por semana a professora contava e não lia uma história. Dava asas à imaginação e aí... haja exagero... Alguns alunos choravam.
9 – Os pais participavam da vida escolar dos filhos? Como?
Sim. Era convidada para os aniversários dos alunos e sempre me procuravam para questionar sobre as dificuldades apresentadas. As mais empenhadas eram: D. Águida Morais, Cacilda Bernardes, Vitória esposa do Nísio, a Maria Campos (sua sobrinha Regina foi minha aluna).
10 – Qual era a função social do Professor naquela época?
Levávamos a sério nossa condição de “mestras”. Daí, exercíamos certa influência nas funções sociais de que participávamos.
11 – Como o trabalho do Professor era visto pela sociedade?
Com respeito. Afinal éramos ciosas de nossas obrigações e procurávamos exercê-las com muita dedicação e dignidade.
12 – Havia jornais editados pela Escola?
Infelizmente não, mas havia muitas atividades. Organizávamos “teatrinhos” e as crianças se apresentavam para os pais (poesias, canto, danças, peças infantis). Era uma festa colher o resultado das apresentações.
13 – Havia salas-ambiente para algumas matérias: Música, Geografia, Área de Ciências e um galpão equipado para as aulas de Educação Física. Fale sobre eles, sobre sua importância no aprendizado.
Aqui vou responder meio como aluna.
Sala de Geografia: duvido que houvesse na época uma mais bem equipada. Mapas, atlas, globos gráficos cobriam duas paredes de cima até o chão. Um luxo!
Sala de Ciências: um esqueleto em tamanho natural e conservado adequadamente ilustrava as aulas (e servia de brincadeiras nas horas de intervalo). Como eram interessantes as aulas!
Sala de Música: Carmem Fiúza solfejando e nós cantávamos “Luar do Sertão” etc, etc. Era eu da 2ª. voz.
O Laboratório equipado e elogiado por todos era pouco ou quase nada utilizado.
A sala 13: nela eram administradas as aulas de Português e de Matemática (Curso de Formação).
O galpão onde fazíamos Educação Física era lindo! Tinha uma viga para exercícios de equilíbrio e a D. Jalma era exímia professora. Até ensinar-me a pisar corretamente ela ensinava. Beleza.
Ainda! Jogávamos vôlei e as competições eram animadas.
No bosque de casuarinas fazíamos exercícios de corrida, tudo, tudo cronometrado. Além de professora de Educação Física, ela nos ensinava a comportar adequadamente como membros de uma sociedade (aulas de etiquetas). As crianças aproveitavam intensamente deste espaço com brincadeiras adequadas à idade.
14 – Como era o Museu? Ele fazia parte específica das aulas ministradas?
Sim, tenho poucas lembranças dele. Era pouco usado.
15 – Você tinha colegas de trabalho vindos de outras cidades? Quais eram eles? Que matéria lecionavam?
Na minha época não. Eram todas de Dores, só a Branca era de Estrela.
16 – Como era a vida social da cidade naquele tempo?
Animadíssima. As alunas do 3º. Ano organizavam bailes memoráveis: Bailes Juninos, Baile do Ipê, Baile da Primavera e outros mais. De Bom Despacho, Abaeté, Luz, Estrela e até de Pitangui chegavam rapazes e poucas moças (felizmente, Dores já tinha muitas). Eram organizados no Galpão da Escola ou no Club. Arrecadávamos um bom dinheiro para as festas de formatura. Barraquinhas, esporte e o único “footing” redondo, no jardim da Escola.
17 – A Escola era elitista àquela época?
A Escola era elitista no sentido de ter uma seleção para bons alunos e ter uma equipe de professores competentes.
18 – Havia acesso de alunos de todas as classes sociais à escola?
Sim, tive 4 aluninhos muitos queridos, de famílias humildes.
19 – Havia elitismo de raça, religião, etnia àquele tempo?
Que eu percebesse, não.
20 – O Professor era bem remunerado em sua época?
Já respondi na questão 2.
21 – Como o Professor era admitido à docência? E o Diretor?
Não me lembro. Creio, que pela competência, não havia protecionismo.
22 – Havia avaliação para o trabalho do Professor?
Sim. O Diretor estava sempre atento e naquela época os professores trabalhavam por amor à profissão e assim se impunham.
23 – Qual era o papel da Escola na Sociedade?
Era um marco importante na cidade. Ali havia cabeças pensantes que se impunham não só pelo saber, mas pela postura. Prof. Waldemar, Prof. Carvalho, Prof. Leonardo, Dr. Di, Prof. Rubens, D. Dina Costa, D. Aparecida França, D. Sílvia Moura, D. Heleninha, D. Ilda, D. Helena Guimarães, D. Adélia Oliveira, D. Rosa Moura, D. Cenira Melo, Carmen Fiúza, Jalma Costa.
24 – Omiti alguma questão educacional que você julga importante para ser citada? Qual?
25 – Relate fatos interessantes sobre a vida da Escola naquele tempo (perdas, fatos pitorescos, relevante, únicos, vanguardistas, culturais, hilariantes, prêmios, repercussão na cidade/estado/país, tudo o que julgar
importante para que o perfil de nossa Escola seja o mais fiel possível à sua importância).
Da Escola Normal, além de sua fachada imponente (para a época), encantava-me o bosque de casuarinas. Quando criança, elas me abrigavam nas brincadeiras infantis. Na adolescência, abrigavam meus sonhos, meus devaneios e quando o vento soprava, o barulho de seus galhos faziam-me lembrar do “Morro dos Ventos Uivantes”, que me fez sonhar com amores ternos, amores sofridos, amores impossíveis, afinal, com o Amor... Quer coisa melhor?
Do lugar mais lembrado e que me deixava encantada, é sem dúvida – a Biblioteca: mesas ovais, cadeiras acolchoadas num tecido aveludado, estantes repletas de livros e ali, com certeza, passei momentos de real prazer. Sentávamos confortavelmente e devorávamos os livros indicados pelos professores ou o que nos interessava.
Um fato ocorrido, que me faz rir até hoje – a turma era pequena e o silêncio absoluto! Levanto os olhos em direção a Ilza (minha querida amiga) e ela num sinal, mostra-me um pé de sapato da Jandira Morais (já falecida), aluna séria, que não era dada a brincadeiras. Pois bem. A Ilza sai engatinhando e coloca o sapato dentro da pasta da Jandira e fecha-a cuidadosamente. Eu era a única a assistir a cena. Dá o sinal! Recolhemos nossos objetos, colocamos os livros nas estantes e ao sairmos da sala estava formado o barulho... – Quem pegou meu sapato? Vociferou a Jandira já no último grau de raiva. Veio a bibliotecária: - Tirem o material das pastas. Tiramos. Logicamente a Jandira não tirou. Eu, coitada de mim, manchada de vermelho e segurando o riso numa agonia sem fim. A Ilza? Meu Deus, serena como sempre. –Não apareceu o sapato? Pois o Diretor será chamado, diz a bibliotecária. Lá vem o Leonardo, com um discurso tranquilo e depois ameaçador: -Suspensão e zero nas provas que vocês não farão. A turma aí se alvoroçou. Ninguém sabia de nada. Quando o circo ia “pegar fogo”, calmamente a Ilza diz: - Jandira, você já olhou na sua pasta? – Não. – Quem sabe, sem querer, você colocou o sapato nela? A turma olhou para a vítima, que com um olhar incrédulo tira o sapato da pasta. – Oh! Oh! Até hoje, tenho a impressão que fui a culpada perante os olhos da turma. Saí da sala e ri tudo que tinha que rir junto com a autora da “façanha”. (Jandira, perdoe, mas foi muito engraçado!...).
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