RELENDO PAPÉIS
ANTIGOS.
(Para o meu
Pai – que deixou uma luz em seu lugar e em meu coração.)
No dia 13 de setembro de 1957, eu era o
nº 18 da Turma C do Instituto de Educação de
Minas Gerais, Escola/sonho de
toda moça se formar Professora...
O Professor de Português, Wilson
Chaves, fora substituído por uma moça linda – Ivana – filha de D. Maria Emília
Goulart, Professora de Desenho.
Desenhar, nunca soube! Nunca sei fazer
um simples patinho que não tenha que explicar: isto é um pato...
Mas, já naquele tempo, gostava de
escrever diferente...
Ivana chegou e pediu que fizéssemos uma
redação com o título RELENDO PAPÉIS ANTIGOS.
Eu sempre relia a carta de papai
e...Bem eu a sabia de cor...
Então eu escrevi assim:
“Há
certas coisas que, apesar da existência visível, nos levam sempre a crer que
estamos diante de um mistério, de um sonho que nunca houve.
É
o que acontece com as cartas de pessoas que já morreram. O papel, as dobras da
carta, a letra, tudo nos parece absurdamente irreal. E, no entanto, aqui está a
carta de papai.
Como
é estranho pensar que este mesmo bloco
passou por suas mãos. Suas mãos? Como eram elas? Já nem me recordo delas com
vida, com movimentos. Só as vejo pálidas, tristes, duramente cerradas sobre seu
peito bondoso.
E
esta carta foi escrita por elas.
‘ "Idolatrada
filhinha’.
Será que já ouvi mesmo essas palavras
de meu papai? Como elas soam friamente,
depois de tantos anos!
‘Boa
filha, seu pai está, hoje, longe daqui, por isso, não passará com você o dia de
seu aniversário...’
E,
por entre as lágrimas, já consciente da realidade, leio ainda:
"o presente material torna-se nulo diante do espiritual. Assim, peço a Deus que que a faça sempre boa e obediente, como até hoje o foi. Em nome de Deus, abençoo-a, querida filhinha.
Papai’"
Como esse papel me faz bem; guardo-o comigo, atado na fitinha cor-de-rosa do presente,que, apesar das admoestações, papai me enviou Com gesto lento reponho a carta no lugar.
Meus olhos já não distinguem uma só das queridas letras.
Tenho vontade de gritar que já sei disso, que não me interessa acreditar nisso...
‘Longe daqui’...
..........................................................................
Guardo a redação até hoje, com a aprovação da Professora.
Com ela, ganhei um prêmio muito importante: uma linda caneta!
Melhor, essa redação foi um passo a mais para que eu continuasse a escrever sobre tudo o quê sentia, sobre tudo o quê via...
Melhor que o prêmio foi a confiança que essa redação me trouxe para, daí a alguns anos, eu me transformar na MARIA....
Dores do Indaiá, 6 de junho (aniversário de meu pai, Osório Caetano da Cruz) - 1988
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