ESTRELA NO
CHÃO
Maria
(Esta crônica é
para Morais e Hilda, um casal que ainda vou conhecer pessoalmente, que são
amigos sem rosto, mas com um coração de verdade)
Que as belezas do céu sempre me
encantam, não há dúvida: a menor brisa que passe por mim, tem o sortilégio de
me levar junto, para outras paragens …O menor raio de sol que nasce mais cedo
em minha janela, é motivo para que meu dia seja enfeitadinho de
alegrias. Se uma estrela diferente
aparece em meu céu, é
promessa de uma noite de belezas. Ah, a lua, Deus meu! Não precisava ser
tão bonita, tão feiticeira para me
encantar!
Desde menina, gosto de vigiar o céu,
descobrir-lhe segredos, descobrir-lhe nuvens diferentes...
Por isso, quando visitei Acesita pela primeira vez, fiquei fascinada com um
céu que eu nunca havia visto igual.
Da Pracinha, bem perto ao hotel da D. Iracema, eu
namorava o BEM e o Céu...Para mim, ambos
tinham o mesmo encanto.
Tudo novo para a noivinha feliz que eu
era: cinema novo, ruas calçadas, cidade limpa,
pratos com que que eu nunca
sonhara: carne de capivara, brotos de samambaia, peixes e até - me
diziam rindo – um prato de caranguejos. Do mar, sem dúvida, mas o nome espantava a mineira de terras bem diferentes, cá no sertão , cá no Cerrado.
Acesita, Usiminas eram um mundo novo,
colorido com outras cores, além das que faziam parte do meu pequeno mundo. Gente apressada, dinâmica, roupas de couro,
ninguém era conhecido. A começar pelo céu que a cidade me apresentou
ali na Pracinha...
Uma estrela insistente, muito baixa, de luz avermelhada me fascinava, me chamava com seu brilho de fogo...
Parecia que eu poderia pegá -la e levá-la para enfeitar meu quarto e meu coração.
Eu espreitei aquela estrela desde à
tardinha e ela continuava lá: imutável, serena, quase ao alcance de minhas mãos.
Cinema, voltinhas na Praça, pipocas,
porta do Hotel e a estrela ali, parece que querendo falar algum segredo
para a mocinha que eu era.
Eu também não falava nada, com medo de espantar a minha estrela
particular. Ficávamos nos vigiando, ela
num céu muito baixo, eu na Pracinha
namorando o meu BEM.
Eu a vigiei todas as noites, de muitos
lugares, com muitos olhares.
Na noite de despedida de Acesita, ela se
mantinha lá.
Olhei-a muitas vezes. Ela silente, como
tudo no céu. (Ah, que palavra mais linda e que há muitos anos eu não escrevia –
SILENTE …) Mas, a minha estrela não era silenciosa, ela era silente – um
silêncio com gosto de abraço, com gosto de namorados no portão da casa
antiga...
Olhei de novo, talvez eu descobrisse, no
último instante, a fala de minha estrela.
Mas ela continuou calada, olhando-me com seus olhos de fogo.
_
Por que você olha tanto para o céu?
E o noivo apontava a direção de minha
estrela.
_ É...é...é uma estrela diferente que eu
nunca vi …
Juntos, voltamos à Pracinha - desculpa para ficarmos juntos mais um pouquinho...
_ Aquela vermelha?
_ É, é aquela ali, bem baixinha, quase
no chão...
O BEM riu.
_ Ah, vou buscá-la pra você, quer?
Rimos de pura felicidade: eu com uma estrela nas mãos, presente de meu
BEM – seria uma bela lembrança do céu escuro de Acesita!
_ Que estrela é aquela?
_ Não é estrela... É uma luz vermelha na
torre de televisão, lá no alto da montanha,
que fica aqui pertinho...
O
céu que eu via não era céu – era uma
montanha muito alta. E que a minha estrela não era estrela, era uma luz
vermelha, sinalizando um caminho estranho para mim.
Hoje, passados tantos anos, contei isso
para um amigo de Brasília que, em outros tempos, morou em Acesita, Fabriciano,
Ipatinga...
No livro que me enviou, VIVANDÂNCIAS,
ele fala desses lugares queridos, com
outro olhar, com outro jeito de escrever.
Ao lado de Hilda, sua esposa, ele pôde ver como foi meu
primeiro encontro com a região que acolheu um jovem casal, ela, tão sonhadora,
que via estrelas no chão... pertinho de
suas mãos enamoradas.
É que, por aqui, estrelas brilham alto,
com luz amarela, piscam pra gente e até
rodopiam no céu.
É que, por aqui, montanhas estão longe,
pincelando o horizonte de azul.
Por
aqui, o horizonte é longe, longe e azul...
Muito mais longe, muito mais azul,
quando a noivinha está silente, enquanto
o seu noivo foi colher uma certa estrela vermelha para ela enfeitar seu quarto e seu coração.
Dores do Indaiá, 20 de maio de 20011.
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