terça-feira, 2 de junho de 2015


ESTRELA NO CHÃO

 

Maria

(Esta crônica é para Morais e Hilda, um casal que ainda vou conhecer pessoalmente, que são amigos sem rosto, mas com um coração de verdade)

 

        Que as belezas do céu sempre me encantam, não há dúvida: a menor brisa que passe por mim, tem o sortilégio de me levar junto, para outras paragens …O menor raio de sol que nasce mais cedo em minha  janela, é motivo para  que meu dia seja enfeitadinho de alegrias.  Se uma estrela diferente aparece em meu   céu,  é  promessa de uma noite de belezas. Ah, a lua, Deus meu! Não precisava ser tão bonita, tão feiticeira para  me encantar!

        Desde menina, gosto de vigiar o céu, descobrir-lhe segredos, descobrir-lhe nuvens diferentes...

        Por isso, quando visitei  Acesita pela primeira vez,      fiquei fascinada    com um  céu que eu nunca havia visto igual.

        Da Pracinha,   bem perto ao hotel da D. Iracema, eu namorava o BEM  e o Céu...Para mim, ambos tinham o  mesmo encanto.

        Tudo novo para a noivinha feliz que eu era: cinema novo, ruas calçadas, cidade limpa,  pratos com  que  que eu nunca  sonhara: carne de capivara, brotos de samambaia, peixes e até - me diziam rindo – um prato de caranguejos. Do mar, sem dúvida, mas o   nome espantava  a mineira de terras  bem diferentes, cá no sertão , cá no Cerrado. Acesita, Usiminas eram um   mundo novo, colorido com outras cores, além das que faziam parte do meu pequeno mundo.   Gente apressada, dinâmica, roupas      de couro,  ninguém era conhecido.    A  começar pelo céu que a cidade me apresentou ali na Pracinha...

        Uma estrela  insistente, muito baixa, de  luz avermelhada me fascinava, me chamava      com seu brilho      de fogo...

        Parecia que eu poderia pegá -la    e levá-la para enfeitar meu quarto    e meu coração.

        Eu espreitei aquela estrela desde à tardinha e ela continuava lá: imutável, serena, quase ao alcance de  minhas mãos.

        Cinema, voltinhas na Praça, pipocas, porta do Hotel e a estrela  ali,  parece que querendo falar algum segredo para   a mocinha que eu era.

        Eu também não falava  nada, com medo de espantar a minha estrela particular. Ficávamos nos vigiando,   ela num céu muito baixo, eu na Pracinha  namorando o meu BEM.

        Eu a vigiei todas as noites, de muitos lugares, com muitos olhares.

        Na noite de despedida de Acesita, ela se mantinha lá.

        Olhei-a muitas vezes. Ela silente, como tudo no céu. (Ah, que palavra mais linda e que há muitos anos eu não escrevia – SILENTE …) Mas, a minha estrela não era silenciosa, ela era silente – um silêncio com  gosto de abraço, com  gosto de namorados no portão da casa antiga...

        Olhei de novo, talvez eu descobrisse, no último instante, a fala de minha estrela.   Mas ela continuou calada, olhando-me com seus olhos de fogo.

        _    Por que você  olha  tanto para o céu?

        E o noivo apontava a direção de minha estrela.

        _ É...é...é uma estrela diferente que eu nunca vi …

        Juntos, voltamos à Pracinha  - desculpa para ficarmos  juntos mais um pouquinho...

        _ Aquela vermelha?

        _ É, é aquela ali, bem baixinha, quase no chão...

        O BEM riu.

        _ Ah, vou buscá-la pra você, quer?

        Rimos de pura felicidade:  eu com uma estrela nas mãos, presente de meu BEM – seria  uma bela  lembrança do céu escuro de Acesita!

        _ Que estrela é aquela?

        _ Não é estrela... É uma luz vermelha na torre de televisão, lá no alto da montanha,  que fica aqui pertinho...

         O céu que eu via não era céu – era uma   montanha muito alta. E que a minha estrela não era estrela, era uma luz vermelha, sinalizando um caminho estranho para mim.

        Hoje, passados tantos anos, contei isso para um amigo de Brasília que, em outros tempos, morou em Acesita, Fabriciano, Ipatinga...

        No livro que me enviou, VIVANDÂNCIAS, ele  fala desses lugares queridos, com outro olhar, com outro jeito de escrever.

        Ao lado de  Hilda, sua esposa, ele pôde ver como foi meu primeiro encontro com a região que acolheu um jovem casal, ela, tão sonhadora, que via estrelas no chão... pertinho  de suas mãos enamoradas.

        É que, por aqui, estrelas brilham alto, com luz amarela, piscam pra gente   e até rodopiam no céu.

        É que, por aqui, montanhas estão longe, pincelando o horizonte de azul.

Por aqui, o horizonte é longe, longe e azul...

        Muito mais longe, muito mais azul, quando a noivinha está silente, enquanto  o seu noivo foi colher uma certa estrela vermelha  para ela enfeitar seu quarto e seu coração.

 

 

        Dores do Indaiá, 20 de maio de 20011.

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