domingo, 26 de abril de 2015


Já se passaram alguns anos de quando escrevi esta crônica. Mas, continuo com a mesma opinião....

 

 

 

PROPAGANDA POLÍTICA

Maria

 

 

 

                          Meu caminho para o trabalho está seco, esfarelado. A grama, esturricada. O sol, com um olho deste tamanho, torrando o mundo cá em baixo.

         A seca entrou brava: ainda bem que o cerrado tem casca-grossa e se mantém de pé nas pernas tortas.

         Os jardins desmaiamorrendo de sede, florezinhas com a boca aberta, esperando  uma gotinha d’água ou o frescor do orvalho da noite.

         Só a Mulata-da-sala resiste. Nasce em qualquer quebradinho do passeio, em qualquer rachadinho o muro.

         Não há primavera nem inverno para a alegre florzinha. Contenta-se em enfeitar o caminho de quem passa. A qualquer hora, ela está lá. Põe sua carinha de fora, balança a cabecinha-de-flor a qualquer brisa que dançar por perto.

         Hoje, vi uma Mulata-da-sala que há muito tempo não via: toda branca com a boquinha pintada de batom vermelho...

         Ela está lá, num cantinho do muro velho, junto com outras- um buquê colorido.  Singelas, não pedem nada. Só querem ver o sol nascendo, os caminhantes passando e, quem sabe, um luar para enfeitar a noite das flores.

         Eu segui meu caminho com o coração alegrinho, quase dançando no peito. Só porque vi uma florzinha branca de batom que, há muito, eu não via!

         No muro velho e escuro, restos de propaganda política da última eleição: VOTE EM MIM!

          E, no quebradinho esfarelado, na janelinha roída, a florzinha fresca e bela com sua carinha de fora...

         Meu caminho velho ficou novo. Meus passos velhos tiveram mais leveza e eu pensei:

         _ Na próxima eleição, vou votar naquela florzinha   branca de batom vermelho.

         De todos, foi o mais belo programa de governo  apresentado: APENAS ENFEITAR O MUNDO!                                               

 

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