Já se passaram alguns anos de quando escrevi esta crônica. Mas,
continuo com a mesma opinião....
PROPAGANDA
POLÍTICA
Maria
Meu caminho para o trabalho está seco, esfarelado. A grama, esturricada. O sol,
com um olho deste tamanho, torrando o mundo cá em baixo.
A seca entrou brava: ainda bem que o cerrado tem casca-grossa e se mantém de pé
nas pernas tortas.
Os jardins desmaiamorrendo de sede, florezinhas com a boca aberta,
esperando uma gotinha d’água ou o frescor do orvalho da noite.
Só a Mulata-da-sala resiste. Nasce em qualquer quebradinho do passeio, em
qualquer rachadinho o muro.
Não há primavera nem inverno para a alegre florzinha. Contenta-se em enfeitar o
caminho de quem passa. A qualquer hora, ela está lá. Põe sua carinha de fora,
balança a cabecinha-de-flor a qualquer brisa que dançar por perto.
Hoje, vi uma Mulata-da-sala que há muito tempo não via: toda branca com a
boquinha pintada de batom vermelho...
Ela está lá, num cantinho do muro velho, junto com outras- um buquê
colorido. Singelas, não pedem nada. Só querem ver o sol nascendo, os
caminhantes passando e, quem sabe, um luar para enfeitar a noite das flores.
Eu segui meu caminho com o coração alegrinho, quase dançando no peito. Só
porque vi uma florzinha branca de batom que, há muito, eu não via!
No muro velho e escuro, restos de propaganda política da última eleição: VOTE
EM MIM!
E, no quebradinho esfarelado, na janelinha roída, a florzinha fresca e
bela com sua carinha de fora...
Meu caminho velho ficou novo. Meus passos velhos tiveram mais leveza e eu
pensei:
_ Na próxima eleição, vou votar naquela florzinha branca de batom
vermelho.
De todos, foi o mais belo programa de governo apresentado: APENAS
ENFEITAR O
MUNDO!
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